Chega de Dia dos Namorados


Eduardo e M?nica na vers?o do comercial de TV Eduardo e M?nica na vers?o do comercial de TVMarcelo Carneiro da Cunha
De S?o Paulo

Todos sabem que eu odeio o Dia dos Namorados, assim como odeio v?rias coisas, em parte por n?o ter tido a s?lida forma??o crist? da maioria dos meus selecionados leitores, em parte por ser um sujeito sens?vel. Insens?veis pedem pacotes Jumbo de pipoca e entram para assistir um Fellini, numa boa. Insens?veis n?o odeiam coisa alguma, porque eles n?o sentem nada em rela??o ao que os rodeia. Eles devoram o que houver ao redor, compram o resto, v?o passar f?rias em Cancun e pronto.

Sens?veis, n?o. Sens?veis n?o conseguem viver em um mundo no qual reina o ax? e o sertanejo universit?rio, exatamente porque eles costumam ter ouvidos e usos para os ouvidos. Sens?veis n?o conseguem assistir a uma novela de tev? sem serem acometidos por impulsos suicidas. Sens?veis querem desencarnar vendo comerciais de tev?, e ? por isso, por ser um sujeito sens?vel demais, que eu odeio Dia dos Namorados.

Eu simplesmente n?o aguento os comerciais, os apelos, a comunica??o nas ruas, e nas fachadas de motel. Como nos templos evang?licos, quem quer amor, tem que pagar d?zimo e os comerciais est?o a?, no papel do pastor vociferante, e a mensagem ? simples: compre, ou suma.

Falo tudo isso ativado pelo mais odi?vel comercial de todos os comerciais de Dia dos Namorados de todos os tempos, que ? esse que voc?s devem estar vendo, de operadora de celular com m?sica da Legi?o Urbana ao fundo.

Eu nunca compreendi a banda, nunca compreendi o culto ao l?der da banda, nunca entendi as letras da banda, nunca entendi o amor que gente demais, e algumas das pessoas mais inteligentes e sens?veis que eu conhe?o, nutrem por ela. Para mim, os infernais anos 80, que eu vivi ao som de Jo?o Figueiredo, Jos? Sarney e Fernando Collor, foram os anos mais disfuncionais de nossas vidas e do pa?s. E a d?cada ? marcada, para todos n?s, creio, pela Legi?o Urbana e sua vis?o dissonante de praticamente tudo.

Nos mesmos anos, a sensacional banda Smiths, com o sensacional Morrissey, faziam uma m?sica autenticamente desconjuntada no tempo oficial e milim?trica no tempo interno do que eles constru?am. Para mim, disso tudo, o Legi?o aproveitava apenas a liberdade que a desconjunta??o nos traz, preenchendo o espa?o e o tempo com coisas intermin?veis e sem sentido, a historieta do tal Eduardo e da tal M?nica sendo apenas um exemplo do que eu falo. E isso, car?ssimos leitores, representava o mundo para os jovens daqueles anos. Engra?ado ? que eu era razoavelmente jovem, mas talvez tivesse passado do al dente, ao menos em rela??o aos que curtiam Renato Russo e o messianismo aplicado. Eu nunca entendi Osvaldo Montenegro, tomates secos, Retratos da Vida e outras manifesta??es um tanto exageradas sobre a real import?ncia das coisas. Nunca consegui ler Paulo Coelho e todas aquelas palavras com mai?sculas, tais como o Vento, o Velho, o S?bio que o Mago tanto aprecia. Para mim, Legi?o era igualzinho. E ver o diabo do tal comercial agora, associando tudo isso ao especialmente odi?vel Dia dos Namorados, foi demais. Se algu?m foi atingido por partes de uma tev? de plasma que, qual ?nibus, se jogou das alturas, minhas sinceras desculpas. Foi excesso de sensibilidade da minha parte, talvez.

Dia dos Namorados precisa ser banido porque ele nos lembra de que algumas coisas s?o absolutas e que ter ou n?o um amorzinho pra chamar de seu faz de voc? a pessoa mais feliz, ou a menos infeliz que o mundo j? viu. E a verdade ? que namorados n?o precisam de dia, porque eles j? t?m tudo. E a verdade ? que n?o precisamos de comerciais de celular, porque todos ou j? tem um ou j? sabem que precisam de um. E a verdade ? que n?o precisamos de m?sicos messi?nicos, qual pastores, nos dizendo obviedades embaladas em arcadismos.

Precisamos de novas formas de viver a vida e seus amores. Precisamos de novas solu??es para n?s mesmos. Seguramente n?o precisamos de Eduardos e M?nicas, seres tolos e nada adaptados ?s nossas demandas afetivas. Precisamos de algo que n?o est? aqui, e, suspeito, n?o vem com 3G. Talvez o que a gente precise mesmo seja t?o simplesmente de formas mais eficazes de romper com a solid?o que nos atormenta, em especial nas cidades grandes demais onde escolhemos ou precisamos viver.

Em vez de Dia dos Namorados, o que a gente precisa mesmo ? de um conector Tabajara que crie uma fa?sca entre n?s e a pessoa que desejamos, que nos deseja e que permanece ? distancia sem que eu, voc?, Eduardo e seguramente a M?nica, fa?amos a menor id?ia da causa. Talvez seja algo que todo mundo busca e que somente voc?, caro leitor, tenha a resposta. Nesse caso, pro favor, n?o se acanhe, mande logo, porque todos, todos mesmo, estamos ? espera. Manda a?, vai. Manda!

Marcelo Carneiro da Cunha ? escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que foi publicado em junho pela Record. Dois longas-metragens est?o sendo produzidos a partir de seus romances "Ins?nia" e "Antes que o Mundo Acabe", publicados pela editora Projeto.
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Grupo LGBT tucano aciona partido contra evang�lico do PSDB


Ana Cl?udia Barros

A declara??o do presidente da Frente Parlamentar Evang?lica (FPE), deputado Jo?o Campos (PSDB-GO), de que o apoio a Antonio Palocci foi usado como barganha pelos religiosos contra o kit anti-homofobia do Minist?rio da Educa??o, provocou a rea??o do Diversidade Tucana, n?cleo de diversidade sexual do PSDB. O grupo vai acionar a dire??o do partido para questionar a postura do parlamentar. A ideia ? pedir uma posi??o da sigla sobre o caso.

A afirma??o de Campos foi feita durante entrevista a Terra Magazine, no dia 25 de maio, quando tamb?m informou que, ap?s reuni?o, as bancadas evang?lica e cat?lica haviam decidido "impor uma s?rie de condi??es". "Se o governo insistisse em manter o kit, bloquear?amos a vota??o na C?mara e apoiar?amos a convoca??o do (ent?o) ministro Palocci para dar explica??es", relatou na ocasi?o.

Por ora, o projeto Escola Sem Homofobia, que seria voltado para estudantes do Ensino M?dio de escolas p?blicas, permanece suspenso por determina??o da presidente da Rep?blica, Dilma Rousseff.

Para o articulador do Diversidade Tucana, Marcos Fernandes, o discurso do deputado n?o est? alinhado com os ideais defendidos pela legenda.

- A posi??o que ele coloca ? diferente da posi??o do pr?prio PSDB. Aqui, em S?o Paulo, por exemplo, temos uma delegacia de combate a crimes de intoler?ncia, que come?ou com M?rio Covas atrav?s de um grupo que combatia crimes de intoler?ncia ? diversidade. O Geraldo (Alckmin) transformou o grupo em delegacia. Temos conselhos criados pelo (Jos?) Serra, prefeito e governador. Temos ambulat?rios espec?ficos para travestis e transexuais. Aqui, foi aprovada uma lei que garante ao parceiro do funcion?rio p?blico o direito a pens?o em caso de falecimento. Quer dizer, s?o v?rias a??es que protegem a popula??o LGBT (l?sbicas, gays, bissexuais e transexuais), e vem o deputado e come?a a dizer coisas contr?rias ao que o pr?prio partido pensa.

O Diversidade quer que o partido se posicione. Fernandes diz que o grupo pretende ainda conversar com o presidente da FPE para "que ele, por ser do PSDB, ao falar como deputado, perceba a posi??o do partido".

- Ele declarou que, se a Dilma insistisse no kit, que deputado chama de "kit gay", eles (os parlamentares religiosos) iriam assinar a CPI do Palocci. O PSDB e o DEM ? que entraram com pedido de CPI. Como ele disse que pretendia negociar? - indaga.

Em post intitulado "O fundamentalismo avan?a, n?s trabalhamos para combat?-lo!", publicado no Blog Diversidade Tucana, Jo?o Campos foi chamado de "deputado no PSDB que aderiu ao obscurantismo e ? prega??o homof?bica como forma de se promover".

- Esse tipo de parlamentar est? se proliferando por todos os partidos do Brasil e n?s acreditamos que seja o papel dos secretariados LGBTs de cada partido agir de forma a esclarecer, informar e sensibilizar suas bancadas, para que argumentos populistas e falsos n?o prevale?am. Esse deve ser um objetivo comum a todos n?s, independentemente de filia??o ou prefer?ncia partid?ria. Felizmente, o deputado Jo?o Campos ? exce??o no PSDB, e n?o a regra - completa, apresentando, em seguida, nomes de parlamentares da sigla que apoiam o Diversidade Tucana, entre eles, o presidente do partido, deputado federal S?rgio Guerra (PE) e a senadora Marisa Serrano (MS).

O blog mostra tamb?m um v?deo com declara??o de apoio do governador de S?o Paulo, Geraldo Alckmin, e uma mensagem por escrito, assinada pelo senador A?cio Neves, de Minas Gerais.

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Oposi��o apresenta novo pacote de ofensivas contra Palocci


Marcela Rocha

A oposi??o apresentou nesta ter?a-feira (7) mais um pacote de ofensivas contra o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. Entre as medidas, est?o previstas seis representa??es e um requerimento convocando o procurador-geral da Rep?blica, Roberto Gurgel, a falar na C?mara dos Deputados sobre sua decis?o de arquivar os pedidos de investiga??o contra o ministro.

As representa??es est?o divididas entre S?o Paulo e Bras?lia. Duas no Minist?rio P?blico de S?o Paulo, sobre o enriquecimento r?pido de Palocci e outra sobre o apartamento que, segundo reportagem da revista Veja, estaria em nome de "laranjas". Mais duas, de igual teor, ser?o registradas no MP Federal.

Uma representa??o ser? feita junto ? Procuradoria do Distrito Federal ainda referente ao apartamento e outra, na PGR sobre o mesmo tema. Al?m disso, solicitar?o para o procurador Gurgel o envio de todos os documentos que embasaram sua decis?o de arquivar o caso na PGR, para que sejam enviados ? Procuradoria do Distrito Federal. Pretendem solicitar tamb?m acesso ? ?ntegra dos esclarecimentos oferecidos pelo ministro ao ?rg?o de controle.

No novo pacote de ofensivas da oposi??o, tamb?m est? prevista a convoca??o de todos os envolvidos no caso do apartamento em nome de terceiros.

A Procuradoria Geral da Rep?blica pediu explica??es ao ministro, mas decidiu arquivar os pedidos de investiga??o por considerar que n?o houve ind?cios de procedimentos ilegais, decis?o que motivou a rea??o do PSDB, do DEM e do PPS.

Palocci protagoniza a primeira crise no governo Dilma. De acordo com reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo no dia 15 de maio, o patrim?nio do ministro teria se multiplicado 20 vezes em quatro anos. O ministro alegou que o lucro foi gerado por sua empresa de consultoria, a Projeto, dentro da legalidade e declarado ? Receita Federal.

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Ap�s confrontos em Valencia, madrilenhos voltam ao Congresso


O momento mais escuro da noite ? exatamente um minuto antes de nascer o sol, diz a mensagem no fundo preto em painel montado na Porta do Sol "O momento mais escuro da noite ? exatamente um minuto antes de nascer o sol", diz a mensagem no fundo preto em painel montado na Porta do SolDayanne Sousa

Depois de declararem encerrado o acampamento que j? durava mais de tr?s semanas em Porta do Sol, jovens de Madri decidiram voltar a protestar em frente ao Congresso nesta quinta-feira (9). O ato veio em apoio ao grupo de Valencia, que teve embates com a pol?cia em manifesta??o contra a corrup??o no Parlamento valenciano.

O"Acampadasol" surgiu nas redes sociais no dia 15 de maio e movimentos come?aram a pipocar em v?rias cidades. Os jovens protestam contra a gest?o econ?mica e a falta de solu??o para problemas sociais no pa?s. Na quarta (8), foi decidido que o acampamento seria desmontado, mas que a articula??o continuaria. Ainda assim, um grupo permanece nas barracas. O in?cio das manifesta??es aconteceu exatamente uma semana antes das elei??es municipais em que o grande vencedor foi o Partido Popular (PP), grupo conservador e de oposi??o ao primeiro-ministro socialista Jos? Luis Rodr?guez Zapatero.

Nesta quinta, pelo menos 300 pessoas conseguiram quebrar o bloqueio policial em frente ao Congresso, em Madri, segundo informou o site do El Pa?s, principal peri?dico espanhol. Mesmo cansados, um grupo de menor n?mero (dias atr?s, os acampados somavam mais de 3 mil) seguiu direto da reuni?o em Porta do Sol para a casa legislativa.

Entre as exig?ncias declaradas do movimento, est?o a elimina??o dos privil?gios da classe pol?tica, o controle das entidades banc?rias e uma separa??o efetiva dos poderes Legislativo, Executivo e Judici?rio.

A meta do ? levar o debate dessas propostas para os bairros e munic?pios por toda a Espanha. Al?m disso, os ativistas j? convocaram v?rios protestos para 11 de junho, quando assumem os novos governos municipais eleitos, e tamb?m para 19 de junho.

Usar Palocci para suspender kit n�o foi barganha, diz Campos


Ana Cl?udia Barros

O presidente da Frente Parlamentar Evang?lica (FPE), deputado Jo?o Campos (PSDB-GO), encarou com "absoluta tranquilidade" a not?cia de que o Diversidade Tucana, n?cleo de diversidade sexual do PSDB, vai acionar a dire??o do partido, em raz?o de uma sua declara??o sobre usar o apoio a Antonio Palocci para negociar a suspens?o do kit anti-homofobia do Minist?rio da Educa??o.

O parlamentar evang?lico tamb?m negou o r?tulo de "barganha" na hora de definir o procedimento, que, segundo frisa, n?o passou de "ferramenta do jogo pol?tico".

- No momento em que o governo se tornou insens?vel, n?o nos ouvia, n?s buscamos utilizar ferramentas do jogo pol?tico. O que n?s fizemos? Propusemos obstru??o de vota??o na Casa, propusemos a demiss?o do (Fernando) Haddad (ministro da Educa??o) e assuminos uma posi??o aberta de que ir?amos articular a convoca??o do Palocci - afirma, prosseguindo com a explica??o:

- N?o considero barganha. Se for por esta l?gica, ? barganha pedir a cabe?a do ministro. ? barganha fazer obstru??o para n?o votar mat?ria. As ferramentas pol?ticas s?o as ferramentas que os partidos usam, inclusive. Isso ? uma pr?tica comum em qualquer parlamento do mundo. Essa coisa de obstruir, de propor requerimento para convocar um ministro est? no regimento da Casa. Agora, a interpreta??o cabe a cada um. 'Ah, olha, foi chantagem'. 'Fulano obstruiu porque quis chantagear'. Isso depende da interpreta??o ou da conveni?ncia que a pessoa quer dar.

O deputado diz que respeita a atitude do Diversidade Tucana e afirma que ela ? pr?pria do "jogo democr?tico".

- Estou convencido das minhas convic??es. Eu poderia dar outra interpreta??o ao que est?o fazendo. Dizer: 'Olha, eles est?o apelando, eles s?o intolerantes'. Eu poderia dar essa interpreta??o, mas acho que faz parte do procedimento - completou o parlamentar.

"Acho que cada um tem a legitimidade de exercer, dentro do espa?o partid?rio, usando os expedientes adequados, aquilo que considera correto", afirmou. "Se eles (Diversidade Tucana) acham que minha declara??o contraria algum princ?pio do partido, isso ? absolutamente normal", minimiza o deputado, que est? em visita a comunidades terap?uticas de Alagoas pela Comiss?o Especial de Pol?ticas P?blicas de Combate ?s Drogas e ao Crack.

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? MEC prepara kit anti-homofobia e provoca rea??o
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Brasil, um lugar de fala!


Paulo Costa Lima
De Salvador (BA)

Voc? j? leu a Interpreta??o dos Sonhos, de Freud? L? dentro tem um relato sobre o 'Sonho de Irma'. Se n?o me falha a mem?ria trata-se de um sonho com sua cunhada. Pois ?, h? uma inje??o no sonho, e uma garganta exposta, com pintas de poss?vel inflama??o, e ? o Dr. Freud que aplica a inje??o. Ent?o, conte?do sexual latente em fam?lia n?o ? coisa nova quando Nelson Rodrigues afirma que "todo homem merece uma noite com a cunhada".

De um lado o ?mpeto germ?nico de entender e classificar tudo, de revelar o sentido dos sonhos, a ci?ncia dos sonhos. Do outro, uma refinada esculhamba??o que celebra uma curiosa flexibilidade de limites - ? flexibilidade ou ? estupro mesmo?

Eu continuo preferindo falar em flexibilidade, mesmo de forma ir?nica. Vale observar que Nelson Rodrigues n?o recomenda comer a cunhada todos os dias - apenas uma noite. E que escolha preciosa da palavra 'merece'. Fico pensando que esp?cie de merecimento ? esse... Quantos sentidos essa formula??o acumula?

? bem verdade que a no??o de 'identidade cultural' acabou pagando um pre?o pela super exposi??o e quase banaliza??o depois de Stuart Hall, na d?cada de 90. Mas n?o os fen?menos que recobria, e recobre. No caso, a plasma??o de uma perspectiva cultural que atua sobre todos, e em especial sobre a cria??o. Talvez, algo que seja melhor entendido como um lugar-de-fala do que como um estilo.

Nem sempre nos damos conta de que a irrever?ncia de um Machado de Assis autorizando o protagonismo de um mort - o nosso estimado Quincas Borba, para quem a tumba foi um novo ber?o -, segue por linhas semelhantes. Habitamos um lugar-de-fala desconstrutivo, galhofento, ?vido por afirmar que a ordem simb?lica dos centros do mundo aqui n?o vale, ou simplesmente n?o existe.


O escritor Machado de Assis (foto: Divulga??o)

Ora, as principais queixas (sint?ticas) recentes sobre o modernismo s?o:

a) seu ascetismo e autoritarismo - sempre centrado na cr?tica da representa??o;
b) sua teleologia est?tica, sempre pescando o mais novo como ideal de sentido;
c) seu minimalismo t?pico ou 'economia de meios';
d) o culto do g?nio ou do vision?rio - e a valoriza??o dos repert?rios can?nicos;
e) as exig?ncias n?o-prazerosas feitas ? audi?ncia.

Um jogo divertido ? ver como cada uma dessas linhas de s?ntese encontra (ou n?o) refra??o na produ??o brasileira. Se por um lado celebramos um g?nio como Villa-Lobos, por outro, dificilmente poder?amos classific?-lo como rigidamente ancorado numa teleologia est?tica, ou apontar com facilidade seu lado minimalista; ou mesmo represent?-lo como vision?rio (no sentido dado ? palavra pelo povo do norte). E muito menos essa hist?ria de ceder ?s exig?ncias n?o-prazerosas com rela??o ? audi?ncia...

Avan?ando algumas d?cadas, vamos nos ver em plena execu??o da obra 'Santos Football Music' de Gilberto Mendes. A obra apaga os limites entre a m?sica de vanguarda (anos 60/70) e o futebol brasileiro. A sala de concerto vira campo de futebol, com torcida, charanga, gritos, vaias, mas tamb?m uma s?rie de sonoridades t?picas das texturas modernas - glissandi, clusters etc. Minimalismo, nunca. Ascetismo, nem pensar. Teleologia: at? sim, mas muito transformada pela hibrida??o. Afinal, como entender nosso modernismo?

H? uma no??o cultivada pela psican?lise da cultura, que pensa o Brasil a partir da dificuldade de implementa??o de uma ordem simb?lica unificada em torno de uma refer?ncia paterna est?vel. Todos os agrupamentos humanos que constru?ram o Brasil tiveram que lidar com um afastamento radical de sua ordem simb?lica de origem. Os ?ndios pelo simples exterm?nio, os negros pela escraviza??o, mas tamb?m os portugueses, assumindo uma posi??o completamente distinta daquela da Metr?pole.

Muitas coisas no Brasil seriam conseq??ncia dessa frouxura de la?o com a dimens?o da Lei simb?lica, da ordem, do respeito ?s regras, da articula??o social - e tamb?m pelo lado da cultura, a celebra??o da flexibiliza??o dos limites, dos repert?rios, o tal lugar-de-fala do qual falamos.

Ocorre que com a emerg?ncia daquilo que vem sendo chamado de p?s-modernismo, no ?mbito do processo de globaliza??o e capitalismo cultural, tudo que se v? ? derretimento de limites, evapora??o de narrativas mestras, prazer imediatista etc... Os psicanalistas chamam isso de queda da fun??o simb?lica do Pai.

Mas n?s, que sempre tivemos essa fun??o comprometida pelo caos e viol?ncia da coloniza??o, vivemos agora (e sempre) um paradoxo todo especial: fomos p?s-modernos mesmo antes do modernismo. Como ? que pode??????


Paulo Costa Lima ? compositor. Bacharel e Mestre (University of Illinois), Doutor (USP e UFBA). Professor de Composi??o e An?lise - UFBA. Pesquisador-CNPq. Membro da Academia de Letras da Bahia. Apresenta??es de sua obra musical (em 2010) incluiram festivais no Brasil, China, Su?cia, Estados Unidos e Fran?a. Outras informa??es: www.paulocostalima.wordpress.com
Fale com Paulo Costa Lima: paulocostalima@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.

Para curar a ins�nia


Depois de ver o sol nascer sem pregar os olhos, por tantos anos, a gente descobre a cura e sente saudades da ins?nia. Depois de ver o sol nascer sem pregar os olhos, por tantos anos, a gente descobre a cura e sente saudades da ins?nia.Paulo Reb?lo
De Bras?lia (DF)

Curei-me da ins?nia. S? resta descobrir como aconteceu.

N?o cuspi dentro do pires para jogar na foz do rio Tapaj?s, como as rezadeiras da minha terra costumam sugerir.

N?o paguei promessa, n?o fiz catimb?, macumba, vodu e nem dancei ax?. N?o acendi vela para santos ou diabos. N?o tomei rem?dio, n?o pisei em consult?rio m?dico.

Depois de oito anos abra?ados ? ins?nia, h? um ano que n?o a encontro.

Eu deveria estar feliz por conseguir cumprir compromissos pela manh? e, deus nos acuda, dormir antes de o sol nascer.

Tanto tempo juntos, vira uma coisa amiga-amante. N?o importa o cansa?o, o sof? ou a cama. Ela sempre espera. Para aparecer quando voc? menos espera.

Talvez a cura da ins?nia seja isso. O sentimento. A gente aprende a gostar.

Com ela, escrevi as melhores cr?nicas. Editei os melhores textos. Assisti aos melhores filmes. Bebi os melhores u?sques. Fumei os melhores charutos. Conversei com os melhores gar?ons. Conheci os melhores maltrapilhos na calada da noite.

Com ela, fui prom?scuo. Dividi a ins?nia com gente feito George Benson, Chet Baker, Coltrane, Miles Davis, Stanley Jordan. Uma grande suruba. E depois que conheci o som da Lisa Ekdahl, curti v?rias noites l?sbicas entre as duas. De camarote.

Sem a ins?nia, tudo isso meio que foi embora. Transformou-se em amor findado.

Voc? sabe que n?o adianta insistir, mas insiste mesmo assim. Com os olhos abertos, a gente vira, mexe, toma leite, conta carneirinho, toma banho, faz um lanche, l? vinte p?ginas de livro, abre uma cerveja, assiste uma hora de filme, planta bananeira, abre e fecha a geladeira, faz a barba, toma umas tr?s doses de licor, escuta m?sica, navega na internet, escreve e-mail, tenta dormir de novo.

N?o adianta, melhor desistir. Conviver. O c?u fica claro e voc? ? vencido pelo cansa?o.

Porque a crueldade da ins?nia ? a mesma crueldade de um amor que se foi. ? ali onde voc? encontra sua cura. N?o ? esquecer que ela existe, mas talvez aceitar que ela esqueceu que voc? existe.

O chato ? nem ganhar um Nobel da Medicina por isso.

Paulo Reb?lo ? jornalista. Site oficial - www.rebelo.orgOpini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.
 

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