Est? dispon?vel no YouTube (http://www.youtube.com/serie3porcento), dividido em tr?s partes, o programa piloto da s?rie de fic??o cient?fica 3%, produ??o da Maria Bonita Filmes dirigida por Daina Giannecchini, Dani Libardi e Jotag? Crema. Com apoio do programa FICTV/Mais Cultura, do governo federal, a divulga??o do piloto visa atrair patroc?nio para continuidade da s?rie a ser exibida na TV.
3% foi vencedor da Etapa I do edital de sele??o de desenvolvimento e produ??o de teledramaturgia seriada para TVs P?blicas - FicTV/Mais Cultura (MinC), e vencedor da Mostra Competitiva de Pilotos Brasileiros na categoria S?ries de Fic??o, Festival Internacional de Televis?o 2010.
Segundo Jotag? Crema, um dos diretores de 3%, a primeira temporada inteira da s?rie j? foi escrita: "Estamos espalhando o piloto pela internet na esperan?a de conseguir um canal de TV interessado em exibir." Informa??es detalhadas sobre a s?rie podem ser procuradas no Facebook em http://www.facebook.com/3porcento.
A f?bula de 3% se passa num futuro pr?ximo cinzento, no qual as pessoas vivem divididas entre duas sociedades muito diferentes. Pressup?e-se que uma sociedade (o "Outrol Lado"), a dos "entrevistadores", seja sensivelmente desenvolvida, enquanto a outra, dos "entrevistados", seja extremamente atrasada. Imposs?vel n?o lembrar da fronteira do M?xico com os EUA ou das antigas Alemanhas Oriental e Ocidental. O "Outro Lado" ? a "terra dos sonhos" para os jovens que vivem em condi??es supostamente subumanas, por?m apenas 3% dos candidatos ? imigra??o conseguem aprova??o ap?s uma s?rie de testes rigorosos, ora bizarros ou simplesmente est?pidos. 97% fracassam, o que pode significar a pr?pria morte no percurso de prova??es.
O piloto avan?a inicialmente sob o ponto de vista de uma jovem candidata. ? dela a voz over que comenta e instrui o espectador acerca das peculiaridades de seu mundo. Ao fim do epis?dio-piloto, por?m, essa "protagonista preliminar" est? morta. Sua narrativa vai introduzir o que se sup?e que sejam os protagonistas "verdadeiros", um rapaz que fraudou seus documentos para conseguir ser aceito no processo de sele??o, uma mo?a e um rapaz parapl?gico. O futuro desses personagens vai depender do sucesso na capta??o de recursos para a continuidade da s?rie.
3% ? uma distopia futurista com ecos de 1984 (1949), de George Orwell, e N?s (1932), de Evgueny Zamiatin, al?m de um toque dos puzzle films ou s?ries de TV norte-americanas como Lost. A pouca originalidade do eixo tem?tico ? compensada pela promessa de um tratamento tipicamente brasileiro e contempor?neo. O piloto demonstra tamb?m a acuidade com que a s?rie parece pretender n?o s? tratar de uma longa tradi??o no universo da fic??o cient?fica (a do embate entre o indiv?duo e sociedades tecnocr?ticas totalit?rias), mas tamb?m urdir uma curiosa alegoria sobre o fantasma da burocracia que assola a sociedade brasileira desde o descobrimento. Os cen?rios s?o essencialmente cinzentos, quase "monocrom?ticos". Os figurinos dos candidatos a imigra??o lembram o dos trabalhadores do filme Metropolis (1927), de Fritz Lang, por sua vez inspirados nos coros expressionistas. Indiv?duos massificados, mecanizados e sem identidade. "N?meros" vestidos em uniformes minimalistas padronizados. 3% aposta no minimalismo dos cen?rios, figurinos e di?logos, na intimidade das cenas, proximidade dos personagens. Minimalista tamb?m s?o os di?logos e o roteiro. O piloto acena com a possibilidade de uma s?rie de fic??o cient?fica genuinamente brasileira e vi?vel, livre da necessidade de efeitos especiais sofisticados que caracterizam os blockbusters americanos. Nesse sentido, 3% parece corroborar a minha tese de que uma "terceira via" da fic??o cient?fica brasileira ainda seja poss?vel, uma alternativa ? "primeira" (a do cinema de grande or?amento, pleno de recursos tecnol?gicos) e ? "segunda" via (a dos filmes B ou, por extens?o, trash movies).
Centrado num roteiro de suspense, 3% investe na mise-en-sc?ne mais intimista dos espa?os fechados e da a??o baseada em di?logos. Rodado com c?meras Red One com capacidade de resolu??o de 4K (aproximadamente 8 milh?es de pixels), 3% ? parcimonioso nos planos gerais com grande profundidade de campo, privilegiando closes ou planos mais pr?ximos. Uma op??o plenamente compreens?vel numa produ??o de recursos modestos que pretende lidar com tem?tica fant?stica.
-- Alfredo Suppia ? o principal especialista em fic??o cient?fica no cinema brasileiro
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