Meus dois carinhos


Andr? Setaro
De Salvador (BA)

Menino de cal?as curtas, no esplendor dos anos dourados - d?cada de 50, vi-me, de repente, despertado pelas curvas femininas atrav?s de duas estrelas do cinema, ambas ?cones de sua ?poca, ambas figuras emblem?ticas da feminilidade do s?culo XX: Brigitte Bardot e Marilyn Monroe.

Esta ? a motiva??o do artigo, pois quero, aqui, homenagear Marilyn pela passagem - j?? - dos 49 anos de seu tr?gico desaparecimento ocorrido em Hollywood em 1962. Mas gostaria de falar um pouco de BB, que primeiro me conquistou antes de Marilyn desde que vi ... E Deus Criou a Mulher (... Et Dieu Cr?ea la Femme), de Roger Vadim, pulando a janela lateral do cine Jandaia (na cantada e decantada Baixa dos Sapateiros de Salvador) e escondido no balc?o, pois o filme era "rigorosamente proibido para menores de 18 anos", com comiss?rio de menores na porta e multa dolorosa para a sala exibidora que permitisse a entrada de garotos antes da idade fixada.

H?, neste filme, um plano de BB de bru?os, completamente nua, secando ao sol, que ? um primor de sensualidade (Giuseppe Tornatore mostra-o em seu Nuevo Cinema Paradiso para o orgasmo coletivo de meninos sentados na primeira fila da acanhada sala do filme, que sentenciou a morte do cinema como casa de espet?culos em 1989).

Precisamente em 1960, com "impropriedade livre", como se dizia naquelas priscas eras, fui ver Ador?vel Pecadora (Let?s Make Love, 1960), de George Cukor, deliciosa com?dia com Yves Montand e Marilyn Monroe, lan?ada no majestoso Guarany - o cheiro do ar condicionado deste cinema ainda exerce em mim um fasc?nio compar?vel ? "madeleine" proustiana.

Em plena maturidade de seu talento e de sua beleza, h? um momento no qual Marilyn canta My heart belongs to Daddy, de Cole Porter, que fustigou o menino estupefato na plateia, arrebatando-o, "levantando-o" em todos os seus sentidos. Nunca vira, este menino, pernas t?o sensuais, t?o belas. Ficava encantado com as revistas que publicavam fotografias de Bardot e Monroe. Obsessivamente. E quando me perguntavam o que queria ser quando crescer, a resposta vinha r?pida: Roger Vadim, porque, naquele tempo, era o marido de BB.

Marilyn, ao contr?rio do que diziam os cr?ticos, esfor?ou-se para ser uma boa atriz e conseguiu o seu intento ap?s o curso no legend?rio Actor?s Studio com Lee Strasberg, que, inclusive, chegou a afirmar que ela e Marlon Brando eram os mais promissores astros do cinema americano.

Em meados do decurso dos 50, come?ou uma nova fase para a estrela com a sua presen?a esfuziante em O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955), contracenando com Tom Ewell nesta com?dia do grande Billy Wilder, que possui aquela cena antol?gica de Monroe com a saia esvoa?ante pelo vento forte do metr?. Em Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), do extraordin?rio Joshua Logan (que fizera pouco antes F?rias de Amor/Picnic, marcando toda uma gera??o, e que ? um dos meus filmes preferidos), Marilyn est? simplesmente inexced?vel no papel da garota assediada por um rapaz ing?nuo do interior que quer lev?-la para a ro?a de qualquer jeito como sua esposa.

Considerada a melhor com?dia americana de todos os tempos, Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959) ? uma celebra??o da arte de Wilder em dirigir e criar situa??es de ambig?idade. Marilyn est? um "a??car" e nenhum cin?filo pode ficar esquecido do momento em que passa, rebolativa, pelo apito fumacento do trem na esta??o onde tamb?m aguardam, travestidos de mulheres, para fugir a uma persegui??o de gangsteres, Tony Curtis e Jack Lemmon.

Entre outros filmes not?veis, o ?ltimo de Marilyn pareceu uma obra premonit?ria: Os Desajustados (The Misfits, 1961), de John Huston, filme outonal e crepuscular escrito pelo ent?o marido da estrela, Arthur Miller, dramaturgo respeitado (A Morte do Caixeiro Viajante). Ap?s as filmagens, morreu, repentinamente, Clark Gable e, um ano depois, Marilyn Monroe.

O maior mito sexual do s?culo XX, sem d?vida. Quando largou Miller, desesperada, se entregou ao ?lcool - com o qual j? tinha muitas afinidades eletivas, pois bebedora d'?gua not?vel - com bastante frequ?ncia, misturando-o, para dormir com fortes barbit?ricos.

Foi amante de John e Robert Kennedy e alguns sustentam que ela foi assassinada, embora o laudo t?cnico registre suic?dio por excesso de barbit?ricos. Seu desaparecimento aos 36 anos, bel?ssima, abalou o mundo. Morte tr?gica que se assemelha a uma pe?a de Arthur Miller em consequ?ncia da inadapta??o da atriz em ser objeto do desejo constante em detrimento de sua personalidade como mulher. Em consequ?ncia, a solid?o. Billy Wilder conta que ela chegava atrasada ?s filmagens, mas que, apesar de tudo, valeu a pena ter trabalho com Marilyn. Wilder gostava de dizer que tinha uma tia velha na ?ustria pontual?ssima mas que ningu?m gostaria de encontr?-la. A beleza e o talento de Monroe, para Wilder, compensavam os atrasos e as consumi??es. Mas quando ia come?ar um filme em setembro tinha o cuidado de marcar com ela para maio. Somente assim ela poderia chegar ? data certa.

Segundo o Dr. Elsimar Coutinho, ilustre m?dico baiano de proje??o internacional, a morte de Marilyn se deu em decorr?ncia de um problema cr?nico de menstrua??o. Estuprada quando crian?a, a atriz sofreu tamb?m muitas interven??es para abortar, e ficou com as seq?elas de uma vida tumultuada. Ao inv?s de expelir o fluxo sangu?neo, como ? comum em toda menstrua??o, a de Marilyn, caso mais raro, encapsulava-se. Na noite fatal, o encapsulamento total provocou-lhe derrame interno. Bem, ? mais uma teoria que, se cito aqui, ? porque vinda de um grande especialista.

Andr? Setaro ? cr?tico de cinema e professor de comunica??o da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Fale com Andr? Setaro: andre.setaro@terra.com.br

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