Para curar a ins�nia


Depois de ver o sol nascer sem pregar os olhos, por tantos anos, a gente descobre a cura e sente saudades da ins?nia. Depois de ver o sol nascer sem pregar os olhos, por tantos anos, a gente descobre a cura e sente saudades da ins?nia.Paulo Reb?lo
De Bras?lia (DF)

Curei-me da ins?nia. S? resta descobrir como aconteceu.

N?o cuspi dentro do pires para jogar na foz do rio Tapaj?s, como as rezadeiras da minha terra costumam sugerir.

N?o paguei promessa, n?o fiz catimb?, macumba, vodu e nem dancei ax?. N?o acendi vela para santos ou diabos. N?o tomei rem?dio, n?o pisei em consult?rio m?dico.

Depois de oito anos abra?ados ? ins?nia, h? um ano que n?o a encontro.

Eu deveria estar feliz por conseguir cumprir compromissos pela manh? e, deus nos acuda, dormir antes de o sol nascer.

Tanto tempo juntos, vira uma coisa amiga-amante. N?o importa o cansa?o, o sof? ou a cama. Ela sempre espera. Para aparecer quando voc? menos espera.

Talvez a cura da ins?nia seja isso. O sentimento. A gente aprende a gostar.

Com ela, escrevi as melhores cr?nicas. Editei os melhores textos. Assisti aos melhores filmes. Bebi os melhores u?sques. Fumei os melhores charutos. Conversei com os melhores gar?ons. Conheci os melhores maltrapilhos na calada da noite.

Com ela, fui prom?scuo. Dividi a ins?nia com gente feito George Benson, Chet Baker, Coltrane, Miles Davis, Stanley Jordan. Uma grande suruba. E depois que conheci o som da Lisa Ekdahl, curti v?rias noites l?sbicas entre as duas. De camarote.

Sem a ins?nia, tudo isso meio que foi embora. Transformou-se em amor findado.

Voc? sabe que n?o adianta insistir, mas insiste mesmo assim. Com os olhos abertos, a gente vira, mexe, toma leite, conta carneirinho, toma banho, faz um lanche, l? vinte p?ginas de livro, abre uma cerveja, assiste uma hora de filme, planta bananeira, abre e fecha a geladeira, faz a barba, toma umas tr?s doses de licor, escuta m?sica, navega na internet, escreve e-mail, tenta dormir de novo.

N?o adianta, melhor desistir. Conviver. O c?u fica claro e voc? ? vencido pelo cansa?o.

Porque a crueldade da ins?nia ? a mesma crueldade de um amor que se foi. ? ali onde voc? encontra sua cura. N?o ? esquecer que ela existe, mas talvez aceitar que ela esqueceu que voc? existe.

O chato ? nem ganhar um Nobel da Medicina por isso.

Paulo Reb?lo ? jornalista. Site oficial - www.rebelo.orgOpini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.
 

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