
De Fortaleza (CE)
Recentemente vimos marchas de protesto pela legaliza??o do uso da maconha serem proibidos pelo Poder Judici?rio, al?m de fortemente reprimidos pela Pol?cia Militar, como aconteceu em S?o Paulo, onde foram utilizados bombas de g?s e balas de borracha contra os manifestantes.
A resposta que se deu ? trucul?ncia policial em S?o Paulo, veio atrav?s de outra forma de protesto, a Marcha da Liberdade, que tamb?m ganhou as p?ginas da internet e teve forte repercuss?o nas m?dias sociais. A proposta da manifesta??o era justamente a de se garantir o direito ? livre express?o, o direito b?sico de protesto, o que acaba sendo uma garantia basilar em qualquer sociedade que se pretenda democr?tica.
A #Marchadaliberdade foi um dos t?picos mais comentados do Brasil por v?rias horas durante o dia 28 de maio passado. Antes de sua realiza??o, entretanto, organizadores tiveram que sentar-se ? mesa com a Pol?cia Militar a fim de garantir que palavras proibidas (por exemplo: aborto e maconha) n?o fossem utilizadas, visto que a manifesta??o tamb?m fora proibida pelo mesmo Judici?rio de S?o Paulo, a pedido do Minist?rio P?blico. Ela acabou acontecendo, reunindo milhares de pessoas na avenida paulista, tendo a liberdade de express?o como a sua maior bandeira.
Na noite da ?ltima segunda-feira (30), a hashtag #EuqueroaCPIdoPalocci foi tend?ncia por mais de 9 horas no Brasil. Em que pese o governo utilizar o seu poder pol?tico impedindo que o Ministro da Casa Civil, Ant?nio Palocci fique sujeito a uma investiga??o parlamentar ante den?ncias envolvendo o aumento de seu patrim?nio nos ?ltimos anos, as manifesta??es online tamb?m refletem a frustra??o que parte da sociedade tem ao n?o conseguir ultrapassar os limites impostos pelo status quo e sua opul?ncia tradicional.
H? mais casos tamb?m recentes, como o da professora Amanda Gurgel e o #dezporcentodoPIBJ?, o vloger Felipe Neto e o #pre?o justo e outros que j? nasceram nessa nova era digital. Todos t?m em comum a utiliza??o da internet como ferramenta para alavancar ideias e reunir pessoas, sem que os limites geogr?ficos sejam um empecilho. S?o exemplos de como as m?dias sociais v?m servindo de palanque virtual para in?meras "marchas" da sociedade. Mesmo que n?o impliquem em uma mobiliza??o f?sica, a percep??o j? ? suficiente para demonstrar a uni?o em torno de uma causa. O que antes era tratado apenas ? pecha de "revolu??o de sof?", representa algo bem mais profundo e que ainda n?o restou devidamente estudado: trata-se de uma nova forma de reuni?o global.
O Twitter, como as demais m?dias sociais, vem servindo como uma grande ?gora da ?poca digital. Os ve?culos tradicionais de comunica??o, inclusive, j? v?m registrando de forma reiterada os trending topics em suas coberturas, a fim de registrar tamb?m as not?cias (manchetes) do dia, as quais acabam, pela forma colaborativa e participativa da internet, materializando de forma fidedigna, boa parte dos anseios da sociedade.
? bom lembrar sempre que a Constitui??o Federal do Brasil, garante no T?tulo reservado aos Direitos e Garantias Fundamentais, em seu artigo 5?, inciso IV, o direito ? livre manifesta??o do pensamento. N?o ? um privil?gio nosso. Est? sacramentado em todas as grandes democracias. Aqui no Brasil, aprende-se isso logo no in?cio do curso de direito, mas poderia ser mat?ria j? do ensino b?sico, por ser de extrema import?ncia para o aprendizado da cidadania.
Salvo a hip?tese da internet ser "desligada", ? semelhan?a do que vimos recentemente no mundo ?rabe, quando a revolta no Egito for?ou o ex-ditador Mubarak a bloquear o acesso ? internet e mensagens de texto buscando impedir a continuidade dos protestos, n?o ir?o funcionar as baionetas do ex?rcito, ou as bombas de g?s lacrimog?nio, balas de borracha e demais artefatos das tropas de choque da Pol?cia Militar. Os protestos online s?o, em sua ess?ncia, democr?ticos. E a democracia tem esse "efeito colateral" que tanto desgosto causa ?s autoridades constitu?das, ao se tornar imprevis?vel em suas bandeiras, virtuais ou n?o. Vale ressaltar que, mesmo com o bloqueio da internet no Egito, Mubarak teve que deixar a presid?ncia do pa?s.
Ainda n?o experimentamos um impedimento legal, a exemplo da proibi??o da Justi?a de S?o Paulo, ?s marchas e protestos online, mas tudo me diz que ? apenas quest?o de tempo, visto que a tend?ncia ? que as campanhas virtuais acabem se tornando mais poderosas do que as presenciais. At? l?, as m?dias sociais, mesmo que limitadas pelo acesso ainda desproporcional da popula??o ? sua utiliza??o, continuar?o a ser o grande term?metro dos clamores sociais. Em vez de serem proibidas, ao menos uma vez que fosse, seria interessante que os governantes escutassem o seu conte?do. Todo protesto ? v?lido. Buscar desacreditar aqueles que gritam por uma causa ou impedir-lhes o direito magno de manifesta??o, entretanto, ? o primeiro passo para atestar a for?a dessa mesma causa.
Emerson Damasceno ? jornalista e poeta. Especialista e apaixonado por direito eletr?nico, al?m do direito desportivo que o fez correr o mundo durante uma d?cada. Blogueiro desde 2002, divide o tempo entre o trabalho, as m?dias sociais e a 4social, sua ?ltima cria??o.Fale com Emerson Damasceno: emerson.maia@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.