De S?o Paulo
Manifestantes trabalham em escrit?rio improvisado na pra?a do Sol, em Madri (Foto: ?rica Chaves/Especial para o Terra)
A arquitetura pol?tica encontra na Uni?o Europeia uma das mais exitosas edifica??es. Desde os seus prim?rdios, no long?nquo ano de 1957, quando da assinatura do Tratado de Roma, at? o documento de Lisboa, os avan?os foram cont?nuos.
Alcan?aram os signat?rios dos muitos tratados a livre circula??o de mercadorias e pessoas por todo o espa?o do territ?rio composto por vinte e sete pa?ses membros.
Estes pa?ses membros, contudo representam situa??es econ?micas e sociais extremamente d?spares. H? pa?ses centrais - Alemanha e Fran?a - com altos ?ndices de desenvolvimento humano e econ?mico.
Ao lado destes, se encontram outros estados com economias fr?geis e com problemas sociais ainda sem solu??o. Estes estados, sem as qualidades dos dois apontados, no momento entram em grave crise.
O desemprego atinge n?veis assustadores. A d?vida p?blica amontoa-se. A m? distribui??o dos impostos arrecadados ? gritante. A corrup??o grassa por todas as sociedades e corroeu os governos.
Esta situa??o levou a uma s?rie de consequ?ncias no campo pol?tico. Os partidos j? n?o representam a vontade de seus eleitores e da cidadania como um todo.
A cidadania - sem emprego e perspectivas - entra em ebuli??o. Movimentos espont?neos surgem por toda a parte. A Espanha mostra-se - como de sua tradi??o - mais ativa na atua??o popular.
Nas pra?as das grandes cidades, aglomeram-se milhares e milhares de pessoas, de maneira pac?fica, para demonstrar o desacordo com a situa??o existente.
Geralmente, estas pessoas s?o convocadas pela internet e re?nem-se independente de qualquer ideologia ou cor partid?ria. Querem manifestar insatisfa??o com a condu??o conferida ao Estado pelos governantes.
A imprensa, recolhendo a voz das ruas, passou a chamar estes populares - sem nome e partido - de os indignados. Est?o contrariados com o que vivem e sofrem.
Segundo se recolhia nos notici?rios dos jornais, se tratava de movimento popular espont?neo. Cessaria a qualquer momento.
N?o parece, por?m, que isto venha acontecer. Figuras hist?ricas, como a do ex-presidente de Portugal M?rio Soares, sempre muito competente ? captar as mudan?as sociais, entram em cena.
Em confer?ncia proferida em Barcelona, M?rio Soares, antev? para alguns pa?ses da Europa movimentos id?nticos ?queles que se processam no mundo ?rabe.
E, outro expositor, o catal?o Josep Ramoneda, vai al?m. V? a uni?o entre os estados membros da Uni?o Europeia entrar em processo de erup??o.
Tudo isto ? poss?vel. Certamente n?o prov?vel. Mas, algo indica que o excesso de otimismo com uma Europa unida vai se dissolvendo. As antigas e fundadas animosidades, entre os estados nacionais, aos poucos voltam ? tona.
A bela arquitetura, imaginada por Jean Monnet e posteriores personalidades envolvidas na constru??o de uma Europa unida, entra em ebuli??o.
Os princ?pios proclamados em seus documentos - entre eles, o princ?pio da coopera??o leal - fragilizam-se aos poucos. N?o foram os representantes dos estados nacionais os autores da constata??o.
A constata??o de que as coisas caminham por veredas sinuosas rompe das v?rias comunidades nacionais. Os indignados - os cidad?os comuns - registram desencanto e amargor.
Os pr?ximos meses ser?o decisivos para os integrantes da Uni?o Europeia.
Ir? se constatar o que ? mais vinculante: os interesses econ?micos ou as velhas na??es com suas tradi??es e valores.
As repercuss?es dos acontecimentos europeus ter?o efeitos por todas as partes e poder?o indicar novos rumos para determinadas ?reas, como o nosso cambaleante MERCOSUL.
Cl?udio Lembo ? advogado e professor universit?rio. Foi vice-governador do Estado de S?o Paulo de 2003 a mar?o de 2006, quando assumiu como governador.Fale com Cl?udio Lembo: claudio.lembo@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.
