De S?o Paulo
O Caderno de Economia de O Estado de S. Paulo (22/05/2011) trouxe interessante mat?ria sobre o que denominou "as dores do crescimento", ou a nova realidade do Pa?s, nos ?ltimos anos, nos quais a expans?o da economia tamb?m tem exposto muito das nossas fragilidades.
A economia brasileira cresceu 4% ao ano, em m?dia, no per?odo 2003-2010, n?mero que deve repetir-se em 2011, o equivalente ao dobro da m?dia observada de 1990 a 2002. O aumento da demanda decorrente se expressa nas filas em aeroportos, bares e restaurantes, hot?is e muitos outros locais, sem que tivesse havido uma expans?o da oferta no mesmo ritmo.
No caso da infraestrutura, apesar de ter havido um expressivo aumento dos investimentos nos ?ltimos anos, ainda h? muitas car?ncias, o que se reflete na falta, ou m? qualidade, de estradas, portos, aeroportos, etc... ? muito importante que o poder p?blico acelere os investimentos sob a sua responsabilidade e melhore o ambiente de neg?cios, para que as empresas tamb?m ampliem seus investimentos nessas ?reas.
O mesmo se aplica a uma car?ncia de determinados profissionais. Isso tem ocorrido tanto em carreiras especializadas como de engenharia, por exemplo, ou outras profiss?es que n?o exigem tanta qualifica??o, mas tamb?m temos car?ncia, como empregadas dom?sticas e outros servi?os pessoais.
No caso das ?reas de engenharia conheci muita gente com excelente forma??o, mas que devido ao baixo dinamismo da economia nos anos 1980 e 1990 acabavam desistindo da profiss?o, seja pela dificuldade de obter um emprego, ou porque n?o se sentiam satisfeitas com a remunera??o e demais condi??es de trabalho, especialmente na constru??o civil. Quem teve chance, migrou para ?reas mais atrativas, como o mercado financeiro, ou servi?o p?blico. ? obvio que essa situa??o desestimulou os novos pretendentes.
Isso tem causado duas evidencias, a primeira ? a car?ncia de profissionais no curto prazo, e outra - decorrente - ? o crescimento dos pre?os. Os servi?os tiveram seus pre?os majorados em 10% nos ?ltimos doze meses, praticamente o dobro do comportamento dos pre?os dos produtos que enfrentam maior concorr?ncia.
O fato ? que o longo per?odo de baixo crescimento da economia brasileira tamb?m estagnou a capacidade de investimentos do governo e da iniciativa privada. Afinal, porque uma empresa investiria na expans?o do seu neg?cio se a demanda esperada n?o crescia substancialmente?
A nova realidade brasileira de maior crescimento da economia nos ?ltimos anos decorre tanto de aspectos favor?veis no mercado internacional, como, por exemplo, os pre?os dos produtos b?sicos que exportamos (as commodities), mas tamb?m de pol?ticas econ?micas e sociais que favoreceram o crescimento da renda e do emprego.
O fato ? que conseguimos combinar uma infla??o razoavelmente controlada, com crescimento da economia e melhora da distribui??o de renda, o que fez com que cerca de 30 milh?es de brasileiros tivessem ascendido na escala social nos ?ltimos anos. Este ? um bom problema, porque nos desafia a apresentar solu??es criativas e r?pidas para uma economia pujante. ? exatamente o inverso do que ocorre com muitos pa?ses em crise, na Europa e outras regi?es, nas quais o desafio ? como garantir uma vida digna para milh?es de pessoas que perderam seus empregos e n?o t?m qualquer perspectiva de obter um novo posto por alguns anos.
O lema "Ordem e Progresso", como expresso em nossa Bandeira Nacional, denota muito do povo brasileiro, talvez mais no que se refira ao seu esp?rito pacifico e expressiva toler?ncia ?tnica, religiosa e racial. Na economia, no entanto, ? a desordem provocada pelo crescimento n?o programado que est? ativando a demanda. N?o ? o desenvolvimento que deve ser contido, mas sim criarmos as condi??es para garantir a expans?o da oferta, via melhora da infraestrutura, amplia??o da capacidade da produ??o e de servi?os.
Ao contr?rio do que ocorre em pa?ses maduros, nos quais a popula??o est? estagnada h? anos, t?m elevada renda per capita e um n?vel adequado de qualidade de vida, o Brasil enfrenta o desafio de proporcionar ascens?o social a milh?es de pessoas que vivem em condi??es prec?rias, assim como gerar cerca de dois milh?es de empregos para absorver os novos ingressantes do mercado de trabalho. O Brasil n?o pode se dar ao luxo de n?o crescer!
? preciso resgatar e aprimorar o instrumento do planejamento p?blico e privado e acelerar a implementa??o dos projetos, sem interromper o ciclo virtuoso da economia. At? mesmo porque o que motiva os investimentos privados ? uma expectativa favor?vel de amplia??o continuada da demanda. Ningu?m investe em uma economia estagnada.
Enquanto isso, as "dores do crescimento" ser?o inevit?veis. Elas incomodam, mas s?o bem menos agudas que as dores da estagna??o, ou, pior ainda, da crise e da recess?o. Conv?m-nos enfrent?-las com determina??o, at? mesmo porque representam muito mais uma oportunidade do que uma amea?a, desde que superadas o mais r?pido poss?vel.
Antonio Corr?a de Lacerda ? professor-doutor do departamento de economia da PUC-SP e autor, entre outros livros, de "Globaliza??o e Investimento Estrangeiro no Brasil" (Saraiva). Foi presidente do Cofecon e da SOBEET.Fale com Antonio Corr?a de Lacerda: alacerda@terra.com.br