
De Natal (RN)
Neste imenso continente lus?fono que ? o Brasil pouco nos d? na telha o que acontece ao redor, no vasto e complexo mundo social do restante da Am?rica Latina. A nossa pr?pria inclus?o nessa identifica??o ("Am?rica Latina") ainda ?, mesmo para o p?blico leitor de jornais, uma realidade um tanto quanto et?rea. De concreto mesmo, o que interessa ? chamada opini?o p?blica brasileira, quando interessa!, s?o as rela??es comerciais, especialmente no ?mbito do Mercosul. Apenas quando transa??es comerciais empacam, damo-nos conta dos nossos vizinhos. Em momentos assim, como na recente discuss?o a respeito do pagamento ao Paraguai pela utiliza??o da energia gerada em Itaipu, explicitam-se, especialmente nos artigos produzidos pelos "bem-pensantes", a bo?alidade imperialista brasileira.
Cotidianamente, contentamo-nos com imagens caricaturais. Trata-se de uma ignor?ncia cultivada. Tudo se passa como se ao n?o prestarmos aten??o para o que ocorrer a lado torn?ssemo-nos diferentes, pertencentes a um outro continente. N?s, que evoluir?amos tanto se o rendimento dos nossos estudantes nos exames internacionais de aferi??o de desempenho no ensino m?dio alcan?asse o patamar atingido pelos seus colegas argentinos, sentimo-nos superiores e de "primeiro mundo" porque comentaristas econ?micos desancam o "populismo" da Presidenta Cristina. E as taxas de homic?dios? Quem dera que nossas grandes cidades apresentassem os indicadores alcan?ados na Grande Buenos Aires!
Mas, como j? dizia um cantor, que prefere o Uruguai a qualquer outro lugar para encontrar a tranq?ilidade, "a ignor?ncia ? indigesta ao fregu?s". Pagamos caro por n?o sabermos direito o que ocorre no nosso imenso e complexo continente. As institui??es que j? constru?mos, dentre elas uma importante aposta como o Parlamento da Am?rica Latina, seriam mais fortes se cultiv?ssemos uma postura de maior envolvimento, e conhecimento n?o meramente tur?stico dos pa?ses vizinhos. Talvez assim n?o tiv?ssemos que enfrentar, como em anos recentes, os ressentimentos paraguaios e bolivianos ao tratamento que dispensamos a quem nos vende recursos vitais, como energia el?trica e g?s.
Nestes dias, o Peru vive um momento pol?tico decisivo. Os peruanos ir?o escolher, em segundo turno, o seu pr?ximo presidente. Na disputa, Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori, que, embora tenha derrotado o terrorismo alucinado do Sendero Luminoso, fez um governo marcado pela corrup??o, desrespeito aos direitos humanos e terrorismo de Estado. Enquanto o pai cumpre pris?o pelos desmandos praticados, a filha, catapultada pela prega??o em defesa da pena de morte e do endurecimento contra a delinq??ncia generalizada, lidera as ?ltimas pesquisas de opini?o. Tudo dentro do figurino da direita mais truculenta.
O segundo candidato ? o nacionalista Ollanta Humala, que j? concorreu antes, perdendo para o atual presidente, Alan Garcia. Detentor de uma trajet?ria pol?tica controversa, Humala j? foi muito pr?ximo politicamente do Presidente da Venezuela, Hugo Chaves. Na atual campanha, abandonou a defesa do ide?rio chavista e pugna por pol?ticas de inclus?o social. Para o candidato, o Brasil e Lula s?o refer?ncias positivas e ostensivamente mobilizadas.
O Peru alcan?ou uma taxa de crescimento anual do PIB, em m?dia, quase duas vezes superior ?quela alcan?ada pelo Brasil em 2010. Em parte alavancado pela parceria comercial com a China, esse crescimento n?o se traduziu em uma diminui??o da desigualdade social. A aus?ncia de avan?os na inclus?o social, especialmente das massas camponesas e ind?genas, ? que alijou da disputa pol?tica o agrupamento pol?tico que deu sustenta??o a Alan Garcia.
O momento pol?tico ? t?o decisivo que uma personalidade como o Pr?mio Nobel de Literatura M?rio Vargas Llosa, s?mbolo do combate ao estatismo e ao populismo de esquerda na Am?rica Latina, decidiu apoiar a candidatura de Humala. Em nome da defesa da democracia.
Trata-se, como voc? bem pode imaginar, de uma disputa pol?tica tensa e com grande carga emocional. Mas esse complicado embate eleitoral, at? o momento, n?o mereceu mais do que notas esparsas na imprensa brasileira. Infelizmente, para a nossa educa??o pol?tica.
Edmilson Lopes J?nior ? professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).Fale com Edmilson Lopes J?nior: edmilsonlopesjr@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.