O Theatro XVIII � nosso!


Deolinda Vilhena
De Salvador (BA)


Aninha Franco e Rita Assemany: reabertura do XVIII-?o (foto: Divulga??o)

A abertura ou a reabertura de um teatro ? sempre um momento especial para os que fazem dessa arte o mote de suas vidas. Na ?ltima segunda-feira tive mais uma vez a ocasi?o de ver a reabertura de um espa?o dedicado a essa arte do encontro, do di?logo que ? o teatro.

Convidada por Aninha Franco, figura emblem?tica do mundo cultural soteropolitano, tive a honra e o prazer de conhecer o Theatro XVIII, ou XVIII-?o para os ?ntimos. Localizado no Pelourinho, Centro Hist?rico de Salvador, a primeira vis?o que tive do XVIII-?o tornou-se inesquec?vel: uma pequena j?ia arquitet?nica devidamente iluminada para a noite especial. Desci a ladeira encantada com a descoberta, incapaz ainda de imaginar o que me esperava. Ao entrar outra surpresa, um hall com direito ? cafeteria e galeria, e no andar de cima uma sala de espet?culo com cerca de 120/130 lugares - com um ar condicionado em ponto de bala - pronta para acolher o p?blico.

Ao ser recebida por Aninha e Rita Assemany, imposs?vel n?o me deixar levar pela euforia da dupla, estabeleceu-se entre n?s uma cumplicidade em torno das batalhas enfrentadas para reabrir o "mais democr?tico dos teatros da cidade". Inaugurado em 1997 foi em 2000 que o XVIII criou o modelo "teatro para todos" em que artista n?o paga pauta e consumidor de arte n?o ? penalizado pela bilheteria. S? assim a democratiza??o ? poss?vel.

O pontap? inicial dessa nova etapa de aventuras do XVIII foi dado com o Sarau do Absurdo. Reza a lenda que um governador muito espirituoso chamado Ot?vio Mangabeira criou duas frases apreciadas pelos letrados: "Pense num absurdo e a Bahia tem precedente" e "O baiano gasta 10 mil r?is para outro baiano n?o ganhar 5". Esse foi o mote para a noite deliciosa da ?ltima segunda-feira.

H? muito tempo n?o ria tanto. Eu e as cerca de 100 pessoas que por l? passaram em busca do tempo perdido. Risadas que devemos em grande parte ao bem elaborado roteiro do poeta Marcos Borah. No palco, "abordando coisas absurdas de Salvador", uma trinca de atores sob o comando de Rita Assemany - mais Clara Sales e Felipe Benevides - contou com o aux?lio luxuosa de Aninha Franco e com a presen?a do m?sico D?o. Foi o suficiente para me mostrar que o XVIII est? na ?rea e se derrubarem ? p?nalti... que ele possa voltar a cumprir a sua fun??o de difusor do conhecimento e da arte de qualidade, de formador de plat?ias e de apresentador de novos talentos.

Tal e qual uma f?nix o XVIII renasce e Aninha aproveita a ocasi?o para convocar a galera: "Seja dono(a) do Theatro XVIII tamb?m".

Mas, nem sempre os tempos foram t?o dif?ceis, nos conta Aninha: "num determinado momento a Secretaria de Cultura e Turismo, sob Paulo Gaudenzi, conseguiu que algumas institui??es culturais ligadas ? mem?ria e ? arte, fossem mantidas com verbas poss?veis para pagamento da folha de funcion?rios, de ?gua, energia el?trica e manuten??o predial.". Ajuda essencial para que se pensasse, se fomentasse e se refletisse sobre a Cidade.

Em 2007, a Secretaria de Cultura, sob Marcio Meirelles, foi proibida pelo Tribunal de Contas do Estado de repassar direitos trabalhistas ?s institui??es, o que enfraqueceu todas elas, sobretudo as que prepararam t?cnicos. Essa situa??o permaneceu at? ter?a-feira, dia 17 de maio, quando as institui??es, Theatro XVIII entre elas, receberam o comunicado de que a Secult, sob Albino Rubim, convenceu o Tribunal de Contas do Estado de que o pagamento dos encargos trabalhistas pode ser realizado, e que os funcion?rios das Institui??es podem ser contratados pela CLT. Chegou ao fim um luta de mais de quatro anos que quase fechou definitivamente as portas do teatro que j? andava querendo at? mudar de fun??o, como diz o folder enviado para 30.000 pessoas divulgando a programa??o da casa: "ser, por exemplo, uma casa de secos e molhados, uma casa de ch?, de artesanato de Caruaru. Eu estava de saco cheio de ser um teatro cheio de id?ias, cheio de espectadores e cheio de problemas".

Ao lado de outras institui??es culturais da Bahia que recebem recursos da Secretaria de Cultura do Estado para a sua manuten??o, o XVIII este ano vai receber o valor total de R$ 450 mil, destinados ao custeio parcial dos seus projetos. Isso torna poss?vel, segundo Aninha, pagar a folha dos t?cnicos e seus direitos trabalhistas; pagar ?gua, energia el?trica e telefonia; manter dois pr?dios do Pelourinho. E possibilita ao XVIII: n?o cobrar nada dos artistas e dos grupos que l? se apresentam; n?o cobrar nada dos artistas e dos grupos que ensaiam no Anexo; n?o cobrar nada dos artistas que exp?em na Galeria Moacir Moreno. Colaborando assim para resolver um dos maiores inibidores de arte no Brasil: o custo da produ??o. E ela vai mais longe: "o modelo do XVIII resolve duas quest?es b?sicas que o consumo cultural enfrenta: protege o artista que ? consumido pela produ??o e protege o espectador que ? consumido pela bilheteria. Eu sou volunt?ria. E ? um inferno fazer com que esse modelo maravilhoso, que interessa a todo mundo, continue...".

Conversas de cafetinas


S?rgio Maggio, Jabuti 2010 na categoria Reportagem (foto: Divulga??o)

Conheci S?rgio Maggio em 2007 quando fiz a assessoria nacional do Porto Alegre Em Cena e o convidei para ir a Poa, como cr?tico de teatro do Correio Braziliense, para assistir o Th??tre du Soleil. A simpatia foi imediata e desde ent?o o tenho como um amigo de ber??rio. Nos reencontramos em Salvador por ocasi?o do lan?amento de Conversas de Cafetinas, que lhe rendeu nada mais nada menos que o Pr?mio Jabuti 2010, na categoria Reportagem. Assim que soube que Cabar? das donzelas inocentes integrava a programa??o de reabertura do XVIII-?o procurei saber de S?rgio o que isso significava para ele, eis a resposta: "o Theatro XVIII provocou um movimento renovador de plateia em Salvador, lembro dos espet?culos custarem R$ 2,18 e a popula??o fazer fila quilom?trica para consumir teatro com avidez. Era uma plateia linda e colorida, dessa Bahia que se mistura e promove esse encontro ?nico racial e poss?vel. Lembro da estreia de R$ 1,99, com o Ricardo Castro na bilheteria, na luz, a denunciar a saga do ator brasileiro de resistir no palco em tempos de crises financeiras. O XVIII se formava como um trincheira, tendo os artistas no front, lutando, criando e sofrendo para fazer arte. Aninha Franco, Rita Assemany, Nadja Turenko, tantos homens e mulheres que acreditam em sonhos e fazem eles se manifestarem num terreiro como orix?s que encantam. E eu, como espectador, me encantei diversas vezes. O XVIII foi uma universidade para mim, que ali vi e aprendi a fazer um teatro que almeja ser espelho das almas. Eu nem tenho tantas palavras para definir o que ? ir pra Bahia com esse projeto de vida que come?ou em 1997 e apresent?-lo no XVIII. Acho mesmo que sou um aben?oado dos deuses, que Oxum me deu um banho de mel e alfazema e p?s no colo para ninar".

Mulherio em festa!


Baseada na obra de S?rgio Maggio (foto: Divulga??o)

Quatro mulheres habitam um bordel onde n?o entra mais nenhum homem. Aos poucos, elas desfiam lembran?as que misturam dores e prazeres num texto que segundo o autor "? bastante universal, apesar do recorte em torno da prostitui??o. S?o quatro prostitutas, que antes de tudo, s?o mulheres".

Vencedora do ?ltimo Pr?mio Myriam Muniz para circula??o Centro-Oeste, Cabar? das donzelas inocentes chega a Salvador ap?s vitoriosa temporada de cinco semanas com filas de espera e sess?es extras no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde inaugurou o Teatro II em novembro de 2009, uma passagem pelo Cena Contempor?nea Festival Internacional de Teatro 2010 e Festival Nacional de Vit?ria 2010, onde se apresentou no hist?rico Teatro Carlos Gomes, sem falar no Cine Teatro de Cuiab? e no Teatro Armaz?m de Recife.

O espet?culo recebeu sete indica??es ao Pr?mio SESC de Teatro Candango - melhor espet?culo, trilha sonora (S?rgio Maggio e Alex Souza), figurino (Marcus Barozzi), ilumina??o (Dalton Camargos) e atriz (Adriana Lodi, Bid? Galv?o e Carmem Moretzsohn). Ganharam o trof?u de melhor atriz para Carmem Moretzsohn (Minininha) e foram classificados para a mostra local do Palco Girat?rio 2011, como informa a produtora Ma?ra Carvalho.

No palco do XVIII estar?o em cena quatro das melhores atrizes de Bras?lia. Catarina Accioly, Carmem Moretzsohn, Adriana Lodi e Bid? Galv?o passeiam por um universo feminino marcado tanto pela repress?o, quanto pela liberdade. A dire??o ? de Murilo Grossi (que recentemente foi visto na novela Escrito nas estrelas) e William Ferreira (que tamb?m assina o cen?rio, levando o espectador a se sentir voyeur da cena). De Salvador, a pe?a segue para Belo Horizonte e Goi?nia.

SERVI?O CABAR? DAS DONZELAS INOCENTES
Texto: S?rgio Maggio
Dire??o: Murilo Grossi
Codire??o e cen?rio: William Ferreira
Ilumina??o: Dalton Camargos
Elenco: Bid? Galv?o, Catarina Accioly, Carmen Moretzsohn e Adriana Lodi Dura??o: 100 min
Quando? 20, 21 e 22 de maio
Hor?rio: sexta ?s 20h, s?bado e domingo 18 e 20h
Onde? Theatro XVIII, Rua Frei Vicente, 18, Pelourinho
Telefone da bilheteria: 3322.0018 (das 15h ?s 21h, exceto ter?a-feira)
Ingresso promocional XVIII em 2011 - R$ 5
N?o recomendado para menores de 14 anos

O teatro ? a grande casa de doidos da humanidade


Doido: uma declara??o de amor ao teatro (foto: Jo?o Caldas)

Para animar ainda mais a festa o XVIII abre ?s portas para Elias Andreatto e a montagem de Doido, mon?logo inspirado na obra de grandes fil?sofos, pensadores, poetas e dramaturgos, como Artaud, Maiacovski, Rimbaud, Van Gogh, Cervantes, Shakespeare, Nietzsche, Nij?nski, Tchecov, Dante, Goethe, Oscar Wilde e Fernando Pessoa. Falando de amor e arte, Doido mostra ao espectador o que essa viagem apaixonante pode despertar no artista e no cidad?o comum.

A pe?a n?o tem uma trama definida e Andreato construiu em cima da loucura, caracter?stica-chave do personagem, as considera??es sobre sua condi??o de ator. Para ele Doido pretende apenas perpetuar os momentos de amor, lucidez, e loucura em que o ator, "esse ser atormentado pela cria??o art?stica", busca se manter vivo no seu habitat, o teatro: "? no teatro, a grande casa de doidos da humanidade, onde podemos viver intensamente todos os personagens e espi?-los pelo buraco da fechadura, vasculhando suas celas e roubando-lhes suas almas, para que essa genialidade possa nos trazer alguma sabedoria", diz Elias.

De quebra a programa??o visual ? assinada pelo irm?o de Elias, Elifas Andreato, um dos artistas gr?ficos mais requisitados e premiados desse pa?s e com o qual tive a ocasi?o de trabalhar entre 1981 e 1983 quando ele assinou os cen?rios do show Clara Mesti?a e a capa do disco Brasil mesti?o, de Clara Nunes. Apenas imperd?vel...

SERVI?O DOIDO
Texto, roteiro e dire??o: Elias Andreato
Luz: Wagner Freire
Figurino: Laura Huzak Andreato
Cen?rio: Luis Rossi
Programa??o visual: Elifas Andreato
Quando? dias 27, 28 e 29 de maio ?s 20h
Onde? Theatro XVIII, Rua Frei Vicente, 18, Pelourinho
Telefone da bilheteria: 3322-0018 (das 15h ?s 21h, exceto ter?a-feira) Ingresso promocional XVIII em 2011 - R$ 5

Deolinda Vilhena ? jornalista, produtora teatral, Doutora em Estudos Teatrais pela Sorbonne e professora do Departamento de T?cnicas do Espet?culo da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Fale com Deolinda Vilhena: deolindavilhena@terra.com.br

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