Teatro para todos as tribos...


Miguel Falabella em A Gaiola das loucas Miguel Falabella em A Gaiola das loucasDeolinda Vilhena
De Salvador (BA)

Meus caros leitores, entre Miguel Falabella e Sandro Christopher de passagem por Salvador, meu amor, Bahia com A Gaiola das Loucas, no Teatro Castro Alves - TCA para os ?ntimos; a despedida ? Lili, da Cia. Marginal da Mar? do teatro do Planet?rio no Rio de Janeiro e a estreia na pr?xima sexta de OTRO de Kike Diaz e Cristina Moura, s? tenho uma coisa a dizer: viva a diversidade que invade os palcos brasileiros. H? teatro sendo feito para todas as tribos. Quem, como eu, ama circular entre todas e tem tr?nsito livre entre elas deve ficar feliz como no pinto no lixo. Todos ao teatro...


Quando o divertissement cumpre seu papel


Sandro Christopher brilhando como Zaz? (foto: Divulga??o)

Chega a Salvador a turn? nacional da com?dia que deu origem ao musical A Gaiola das Loucas, escrita pelo grande ator, diretor e cen?grafo franc?s Jean Poiret. A estreia data de 1973 no Th??tre du Palais Serrault em Paris e ? at? hoje, um dos maiores sucesso de p?blico do teatro franc?s da segunda metade do s?culo XX.

Para quem n?o viu o filme, ou para quem n?o viu a primeira montagem brasileira de 1975 - com Jorge D?ria e Carvalhinho, numa produ??o de Pedro Carlos Rovai e dire??o de Jo?o Bethencourt (eu vi os dois!) - a hist?ria ? mais ou menos assim: Georges (Miguel Falabella) ? o propriet?rio do cabar? A Gaiola das Loucas, em Saint Tropez. Famoso pelos seus shows de transformistas, o local tem sua vedete: Zaz?, o transformista mais famoso de toda Riviera que, ao tirar a maquiagem, transforma-se em Albin (Sandro Christopher), com quem Georges mant?m uma rela??o est?vel h? mais de vinte anos. A rela??o entre os dois personagens ? t?o solidamente estruturada que ambos t?m um filho: Louren?o, fruto de uma aventura de Georges nos bastidores do Lido de Paris, quando ele era bem jovem. At? ai nada demais. Mas, Louren?o est? muito feliz porque vai casar. O problema ? que a noiva ? filha do l?der do Partido da Fam?lia, Tradi??o e Moralidade.

Miguel afirma que "sempre quis produzir esta obra. Primeiro o musical e agora a pe?a. Ela embute um tema bastante s?rio, que ? a homofobia. Ao mesmo tempo, o tema ? tratado com humor. A minha sensa??o de bem estar ? muito grande quando provoco no p?blico gargalhas constantes" ao mesmo tempo que lamenta o fato de que, quase quarenta anos ap?s a estreia parisiense, "o preconceito n?o foi erradicado, at? continuar? existindo, pois faz parte da ess?ncia do ser humano. Mas, aos poucos, a fuma?a vai se dissipando".

Para viabilizar a turn? , Miguel Falabella precisou fazer altera??es: "na log?stica, mas sempre zelando pela manuten??o das ideias b?sicas do musical. A linha mestra est? garantida", anuncia. "? claro que a vers?o mais pr?tica ? uma consequ?ncia de todas as quest?es que envolvem fundamentalmente a viabilidade financeira. Ficar em cartaz durante meses ? definitivamente muito diferente de montar o espet?culo em Salvador, para uma minitemporada. Tudo precisa ser mais racional".

Se na estreia Miguel dividia o palco com Diogo Vilella, Salvador vai aplaudir agora Sandro Christopher interpretando a transformista Zaz?. Para quem n?o ligar o nome a pessoa, refresco a mem?ria dizendo que Sandro ? ator, bar?tono e cantor de musicais, com um repert?rio de mais de 60 ?peras que permitiu que Sandro marcasse presen?a em palcos dos mais diversos pa?ses. Sucesso em todas as ?reas, vale destacar seus trabalhos em Solteira, Casada, Vi?va, Divorciada, com Lilia Cabral (Pr?mio Shell de Melhor Atriz), A ?pera dos Tr?s Vint?ns, de Brecht e no infantil Uma Dama e um Vagabundo, de Marcelo Saback (indica??o para os pr?mios Mambembe, Coca-Cola e APCA, como Melhor Ator). Com a dupla Charles M?eller/Claudio Botelho atuou nos musicais O Fantasma do Theatro, ?pera do Malandro (no controvertido papel de Geni) e ?pera do Malandro em Concerto. Sob dire??o de Miguel Falabella atuou no musical Imp?rio, no papel de D.Jo?o VI e Os Produtores de Mel Brooks e Thomas Meehan. Na TV, fez Bel?ssima, A Lua Me Disse, A Cor do Pecado e A Diarista, integrou o casting de A Vida Alheia e ? presen?a certa na pr?xima novela de Miguel para a TV Globo.

Para os que torcem o nariz para o teatro comercial, tenho a dizer que divido o teatro em dois: teatro bom e teatro ruim. Por isso quem considera a com?dia um gen?ro menor, fique em casa, porque Miguel faz parte daqueles que ama a com?dia: "fazer comedia ? parte da minha ess?ncia, ? o que me faz feliz. Adoro sentir o p?blico se soltar em belas gargalhadas como rea??o ao que acontece no palco. Esta qu?mica que acontece entre o artista e o espectador ? algo extraordin?rio, revigorante. Desde Os Produtores passando pelo Hairspray e A Gaiola das Loucas, tem sido uma grande aventura trazer os grandes musicais da Broadway para o p?blico brasileiro que por sua vez tem demonstrado uma grande satisfa??o ao assistir as grandes produ??es. O objetivo de todos n?s, produtores, atores e diretores ? buscar a satisfa??o do p?blico, ? viabilizar o momento m?gico durante aqueles duas ou tr?s horas de espet?culo. N?o interessa tanto assim se estamos falando de um drama, de uma com?dia ou de outro g?nero. O que buscamos ? a satisfa??o do p?blico. Afinal, o que ser?amos sem um p?blico satisfeito? As pessoas precisam relaxar e uma boa pe?a pode contribuir enormemente para o bem estar do indiv?duo. Este ? o nosso grande objetivo."

Workaholic assumido Miguel ser? o autor na pr?xima novela das 19h da TV Globo, Beijo na Boca ou Aquele Beijo, dirigida por Cininha de Paula, com estreia prevista para 10 de outubro, dia do anivers?rio do pr?prio Miguel, trazendo no elenco nomes como Giovanna Antonelli, Mar?lia P?ra, Cl?udia Jimenez, Grazi Massafera, Fernanda Souza, Herson Capri, Leilah Moreno, Ricardo Pereira, N?vea Maria, Luis Sal?m, Victor Pecoraro, Diogo Vilela, Fiuk, Sandro Christopher e Jacqueline Laurence.

SERVI?O A GAIOLA DAS LOUCAS
Com?dia de Jean Poiret
Vers?o brasileira e dire??o: Miguel Falabella
Co-dire??o: Cininha de Paula
Figurinos: Claudio Tovar
Cenografia: Clivia Cohen
Com Miguel Falabella; Sandro Christopher; Jorge Maya; Davi Guilhermme; Carla Martelli;Eliana Rocha; Carlos Le?a; Keila Bueno e Gustavo Klein.
Quando? 27, 28 e 29 de maio
Onde? Teatro Castro Alves
Hor?rio? 21h
Ingressos: R$ 130, (filas A a P); R$ 110, (Q a Z3); R$ 80, (Z4 a Z11)
Informa??es: (71) 3117-4899
Indica??o: 12 anos
Dura??o: 90 minutos - com 15 min de intervalo


Mais um espet?culo com a griffe Kike Diaz


OTRO, sucesso internacional (foto: Bert Van Hoogenbemt/Divulga??o)

Cada vez mais me conven?o que Kike Diaz ? o mais internacional dos diretores brasileiros em atividade. H? algo em seus espet?culos - al?m da efici?ncia da sua produ??o - que o leva a viajar pelo mundo com as mais diversas cria??es. N?o foi diferente com OTRO, composto por cenas fragmentadas, que misturam narrativas, v?deos, m?sica tocada em cena, atores e cenas cotidianas, e que depois de cumprir temporada no Rio de Janeiro, partiu em turn? pela B?lgica (Kunstenfestivaldesarts, Bruxelas), Alemanha (Hellerau - European Center for the Arts, Dresden), ?ustria (Wiener Festwochen, Viena), Jap?o (Shizuoka Performing Arts Festival), Su??a (Zurich Spektakel Festival, Zurique), Holanda (Noorderzon Festival, Groningen), It?lia (VIE Scena Contempor?nea, Modena) e Fran?a (Strasbourg, Ferme du Buisson, Noisiel e Theatre 71, Malakoff, Paris). Para s? ent?o chegar ao Teatro do SESC Pompeia.

A pesquisa de OTRO foi feita por meio de resid?ncias art?sticas pelas ruas de lugares como a Pra?a XV, Taquara e Lapa, no Rio de Janeiro. Nesses locais, os criadores investigaram a rela??o de personagens "reais" com o entorno urbano, processando esses materiais com v?rios tipos de articula??o c?nica. "Foi um salto no vazio. A alteridade (a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro em uma rela??o) ? sempre um campo vasto, ? disso que somos feitos, e ? um tema com poss?veis olhares de teor filos?fico, social, afetivo...", explica Enrique Diaz.

O projeto foi desenvolvido em um processo de colabora??o, com o encontro de artistas de diferentes ?reas, especialmente de teatro e dan?a, em busca de novas formas de di?logo, de capta??o de informa??es, pontos de vista da cidade e tamb?m de processos de cria??o art?stica. Enrique Diaz convidou Cristina Moura para dividir a dire??o. De acordo com Kike, o processo de cria??o e trabalho de OTRO se apoia em um s?lido trip? conceitual e metodol?gico, que inclui um foco, uma figura mentora e uma metodologia espec?fica.

Tendo como foco o comportamento humano e a intera??o com o outro, OTRO pode ser encarado como uma esp?cie de an?lise das formas vari?veis de percep??o e subjetividade, que influenciam, nas esferas do p?blico e do privado, as atitudes e os pontos de vista em rela??o aos demais. A figura mentora do processo criativo ? o olhar e a obra de Clarice Lispector, em especial seus contos e cr?nicas, no que revelam de maneira muito natural a intimidade e o estranhamento entre seus personagens, marcados pelas situa??es do cotidiano. "A Clarice tem um olhar para a superf?cie das coisas que consegue abordar a profundidade e com isso ela racha a l?gica", diverte-se o diretor.

Marque na sua agenda:voc? tem apenas do dia 3 ao dia 26 de junho para ver OTRO. N?o vacile!

SERVI?O OTRO
Dire??o - Enrique Diaz e Cristina Moura
Conceito/ Projeto - Enrique Diaz
Cria??o e Performance - Cristina Moura, Daniela Fortes, Denise Stutz, Enrique Diaz, Felipe Rocha, Raquel Rocha, Renato Linhares e Thierry Tremouroux
Onde? SESC POMPEIA - TEATRO - Rua Cl?lia, 93, Pompeia. Telefone - (11) 3871-7700
Quando? Sextas-feiras e s?bados ?s 21 horas e domingos ?s 19 horas, at? 26 de junho
Ingressos - R$ 32 (inteira); R$ 16 (usu?rio matriculado no SESC e dependentes, pessoas com mais de 60 anos, professores da rede p?blica de ensino e estudantes com comprovante) e R$ 8 (trabalhador no com?rcio, servi?os e turismo matriculado no SESC e dependentes)
Dura??o - 80 minutos.
N?o recomendado para menores de 12 anos.
Maiores informa??es: www.impromptucoletivo.wordpress.com


CIA. Marginal da Mar? encerra temporada no Planet?rio da G?vea


Atores-moradores do Complexo da Mar? (foto: Divulga??o)

A dica dessa semana para os cariocas ? o espet?culo ? Lili que est? se despedindo do Teatro Maria Clara Machado no Planet?rio da G?vea. Produzido pela Cia. Marginal, formada por atores-moradores do Complexo da Mar?, que desenvolve suas atividades com a organiza??o Redes de Desenvolvimento da Mar? desde 2005, al?m de realizar a??es voltadas para a democratiza??o do m?todo de trabalho adotado pelo grupo, com oficinas teatrais oferecidas para jovens da comunidade. Em 2006, o grupo foi contemplado com o Pr?mio de Teatro Myriam Muniz (FUNARTE), que permitiu a montagem do espet?culo Qual ? a nossa cara? Em 2009, recebeu patroc?nio da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro para a manuten??o de suas atividades. Em 2010, o grupo foi mais uma vez vencedor dos Editais de Cultura da SEC-RJ, na categoria montagem de espet?culo, o que possibilitou a cria??o do projeto Do outro Lado, do qual resultou a pe?a ?, Lili, que marcou a estreia da Cia. na Zona Sul carioca.

A pe?a teve como ponto de partida uma s?rie de conversas dos atores com pessoas presas em penitenci?rias do munic?pio do Rio de Janeiro. O mundo daqueles que vivem em regime fechado ? a chave para explorar criticamente o universo dos que vivem, hoje, em espa?os populares, submetidos a uma s?rie de restri??es, como fronteiras do tr?fico e controle armado da Pol?cia.

Seguindo a linha de trabalho que vem se consolidando no grupo desde 2005, o processo de cria??o do espet?culo partiu da pesquisa de campo realizada nos pres?dios Lemos Brito, em Bangu, e Oscar Stevenson, em Benfica, ambos no Rio de Janeiro. Ao longo de dois meses, foram mais de 1.200 minutos de conversas e entrevistas com cerca de 30 presos. "Nosso foco n?o eram os crimes supostamente cometidos pelos presos, a especificidade das penas que cada um deles nem tampouco as poss?veis den?ncias ou queixas que quisessem fazer contra o sistema prisional. Ao contr?rio, tentamos explorar uma dimens?o mais subjetiva da vida em regime fechado: a maneira como se constr?i a intimidade em um ambiente cuja premissa ? a subtra??o da privacidade dos indiv?duos", explica Isabel Penoni, diretora do grupo.

A diretora diz que, com a pe?a ? Lili (grito de liberdade usado pelos presos no momento de sua soltura), a companhia quer levar ao p?blico um pouco do cotidiano de uma pris?o em regime fechado. O espet?culo mostra os rituais de conviv?ncia, as hierarquias, os ritos sexuais, a longa espera por cartas e visitas, os anest?sicos espirituais. "Esses s?o alguns dos temas que perpassam as rela??es entre seis presidi?rios na tentativa de sobreviver ? falta de privacidade e ao tempo est?tico", comenta Penoni sobre a pe?a.

SERVI?O ? LILI
Elenco: Diogo Vitor, Jaqueline Andrade, Geandra Nobre, Priscilla Monteiro, Rodrigo Souza e Wallace Lino
Dire??o: Isabel Penoni
Pesquisa e cria??o: Cia Marginal
Dramaturgia: Rosyane Trotta e Isabel Penoni
Dire??o de arte: Rui Cortez
Quando? at? 1 de junho - ?s ter?as-feiras e quartas-feiras ?s 21h
Onde? Teatro Maria Clara Machado (Planet?rio da G?vea) - R. Vice-Governador Rubens Berardo, 100, G?vea
Classifica??o et?ria: 18 anos
Pre?o: R$ 20
Informa??es: (21) 2274.0046

Deolinda Vilhena ? jornalista, produtora teatral, Doutora em Estudos Teatrais pela Sorbonne e professora do Departamento de T?cnicas do Espet?culo da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Fale com Deolinda Vilhena: deolindavilhena@terra.com.br

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