"Vou participar da marcha em defesa do direito de marchar", anuncia, com ironia escancarada, Soninha Francine (PPS/SP), referindo-se ? Marcha da Maconha em S?o Paulo, marcada para este s?bado (21), no v?o do Masp, na Avenida Paulista. Sempre envolto em pol?mica, o evento vem sendo vetado nos ?ltimos anos gra?as a investidas do Minist?rio P?blico Estadual ou sofrendo restri??es, como na edi??o de 2010, quando os participantes foram proibidos de pronunciar a palavra maconha.
Desta vez, para evitar pris?es por apologia ao crime e indu??o ao uso de drogas, os manifestantes apelaram para um habeas corpus preventivo, mas tiveram o direito negado pelo Tribunal de Justi?a de S?o Paulo.
- Todo ano, em v?rios lugares do Brasil, ela acontece sem problemas e, em S?o Paulo, tem sempre um promotor, tem sempre um juiz para dizer que n?o pode. Eu lembro que, em alguns outros casos, os organizadores tamb?m tiveram que se precaver, se antecipar, se defender em ju?zo. A?, vem uma decis?o liminar de ?ltima hora, que n?o d? tempo de recorrer. O julgamento em si nunca acontece. ? sempre essa fragilidade. Parece at? que vivemos em pa?ses diferentes ou que a regra muda de Estado para Estado - reclama Soninha.
Ela explica o que entende ser a finalidade da iniciativa:
- N?o tem nada de apologia ao crime. ? a defesa da mudan?a da legisla??o. Voc? n?o est? defendendo que as pessoas ajam contra a lei, mas que a lei seja modificada. A marcha ? uma manifesta??o como muitas outras. ? prefer?vel que a maconha, mesmo para fins recreativos, seja vendida dentro do mundo das leis, das regras, do controle de qualidade, do controle fiscal e tudo mais. Melhor do que continuar sendo monop?lio dos bandidos, que n?o est?o nem a? para regra nenhuma, a n?o ser as que eles mesmo imp?e.
E prossegue na defesa:
- A marcha ? uma forma de tentar discutir o tema com honestidade. N?o com mitos, tabus e informa??es deturpadas. Achar que a gente que pede a descriminaliza??o ? um bando de maconheiro que s? est? pensando no seu pr?prio bem e quer que o resto se dane. Ou que n?o podemos liberar a maconha porque vai ser um desastre, porque teremos um ex?rcito de zumbis pelas ruas. N?o pode discutir o tema na base do terrorismo e do tabu. Tem que ser discutido como se discutem outras quest?es.
Para a ex-vereadora e atual titular da Superintend?ncia do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), o tema vem sendo tratado ainda com hipocrisia.
- ? isso que d?i. Um pa?s que exalta, que transforma em s?mbolos da identidade nacional outras drogas, como a cerveja e a cacha?a, que se orgulha de sua cacha?a e tem selo de qualidade, uma certid?o de origem. ? uma droga cujo abuso faz muito mal, cuja depend?ncia ? destrutiva, cujo uso indevido acarreta mortes toda semana. Toda semana morre algu?m porque foi atropelado, porque foi assassinado, porque bateu o carro por causa do uso indevido de ?lcool. Esse mesmo pa?s, que tem orgulho da sua cacha?a, que tem orgulho do seu caf?, outra subst?ncia psicoativa, que coloca cerveja para patrocinar a sele??o de futebol, esse mesmo pa?s finge que tenta erradicar a maconha, coisa que ningu?m conseguiu nunca no mundo, na hist?ria da humanidade. Enquanto finge que ? poss?vel erradicar a maconha, deixa os criminosos monopolizarem a produ??o e o com?rcio.
Proced?ncia garantida
A legaliza??o, enfatiza Soninha, evitaria o contato dos usu?rios com criminosos e ofereceria a eles garantia da proced?ncia da maconha, "como temos quando compramos outros produtos. Xampu, Red Bull, o que for".
- Tenho certeza que a criminaliza??o da produ??o e do com?rcio como tentativa de proteger a sociedade n?o s? n?o protegeu, como causou muito mais danos. Por causa da criminaliza??o, criou-se todo um poder paralelo e hoje quem nunca nem sentiu cheiro de maconha, deve ter gente assim, corre o risco de morrer num tiroteio.
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