
Celebrado como um discurso hist?rico, o pronunciamento do presidente americano Barack Obama sobre o Oriente M?dio, realizado nesta quinta-feira (19), n?o traz novidades, na opini?o da especialista em hist?ria palestina Arlene Clemesha. "Ele n?o reconheceu o Estado palestino", contesta a professora da Universidade de S?o Paulo e membro de comit? de coordena??o das Na??es Unidas na Palestina, o ICNP-UN.
A pesquisadora avalia que Obama deixou brechas no discurso americano que anulam seu apoio ? constru??o de um Estado palestino nos limites territoriais anteriores ? guerra de 1967, quando Israel anexou parte da Cisjord?nia, da Faixa de Gaza, de Jerusal?m Oriental e de Gol?.
Em um momento de sua fala, Obama diz que ainda faltaria resolver a quest?o de Jerusal?m: "Estou certo de que esses passos sozinhos n?o ir?o resolver o conflito, porque dois assuntos persistentes e emocionais v?o continuar: o futuro de Jerusal?m e o destino dos refugiados palestinos".
Para Arlene, essa ressalva dificultar? a aceita??o de um acordo de paz pelos palestinos:
- Se voc? for respeitar as fronteiras de 67, isso significa devolver Jerusal?m Oriental. Obama j? tirou isso da quest?o. E isso ? muito grave porque nenhum palestino vai aceitar um acordo sem Jerusal?m Oriental.
A professora avalia que a maior import?ncia do discurso foi mandar uma mensagem ao Oriente depois da morte do terrorista Osama Bin Laden. "Ele quis aliviar qualquer tipo de tens?o que h? em torno da morte na regi?o".
Obama declarou: "No momento em que encontramos Bin Laden, a agenda da Al Qaeda j? era vista como sem futuro pela maioria na regi?o e as pessoas do Oriente M?dio e do Norte da ?frica j? estavam cuidando de seu futuro em suas pr?prias m?os". A refer?ncia ao futuro da regi?o ? uma men??o aos protestos por democracia que surgiram em v?rios pa?ses. Na opini?o de Arlene, o presidente americano "quis colocar que a morte de Bin Laden ? uma ajuda ?s revolu??es ?rabes".
Leia a entrevista.
Terra Magazine - O discurso de Obama foi relevante para o reconhecimento do Estado Palestino?
Arlene Clemesha - Foi um discurso muito cuidadosamente elaborado. Ele n?o reconheceu o Estado palestino. Ele falou que apoia a cria??o do estado Palestino nas fronteiras anteriores a 67, com trocas territoriais acordadas, de comum acordo. Isso ? o que sempre foi dito. Eu considero que esse "com trocas territoriais acordadas" indica que ele n?o reconhece as fronteiras de 1967. E isso ? apenas um dos pontos.
O que mais a senhora destacaria?
Ele retoma o assunto depois e diz que v?o restar ainda por resolver dois assuntos: Jerusal?m Oriental e os refugiados. Se voc? for respeitar as fronteiras de 67, isso significa devolver Jerusal?m Oriental. Ent?o, ele n?o est? reconhecendo as fronteiras de 67. J? tirou Jerusal?m Oriental da quest?o. E isso ? muito grave porque nenhum palestino vai aceitar um acordo sem Jerusal?m Oriental.
Na sua opini?o, ent?o, Obama enganou todo o mundo?
Sim. Ele ainda disse que ? contra qualquer a??o unilateral. Com isso, ele quer dizer que, se passar pelo Conselho de Seguran?a, ele vai vetar o ingresso da Palestina na ONU. Foi um discurso cheio de dois pesos e duas medidas, o tempo todo. Os Estados Unidos sempre aceitaram a??es unilaterais de Israel. E agora dizem que n?o aceitar?o dos palestinos, que s?o os ?nicos que tomam iniciativa pela paz. Israel n?o faz nada, o que ? muito estranho diante do movimento das revolu??es ?rabes que vem acontecendo.
Mas no discurso Obama condenou os assentamentos israelenses em territ?rios de ocupa??o palestina.
Isso n?o deixa de ser importante. Mas a posi??o formal dos Estados Unidos sempre foi essa. Na pr?tica, ele condenou os assentamentos, mas n?o apoiou a cria??o do Estado nem deu qualquer tipo de sinaliza??o sobre como avan?ar para a cria??o do Estado.
Ent?o por que fazer esse discurso neste momento, ap?s a morte de Bin Laden, num momento em que todas as aten??es est?o voltadas para o Oriente M?dio e norte da ?frica?
A minha leitura da import?ncia disso ? que Obama tamb?m deturpou o significado da morte de Bin Laden. Ele quis colocar que a morte de Bin Laden ? uma ajuda ?s revolu??es ?rabes. Essa era a mensagem que ele queria passar. Com isso, queria aliviar qualquer tipo de tens?o que h? em torno da morte de Bin Laden. Ele disse que esse assassinato foi uma ajuda, coisa que n?o ?. A ?nica coisa que pode ajudar ? um aux?lio econ?mico para os novos governos e, sobretudo, ficar de fora. A ?nica coisa que pode acabar com m?todos terroristas ? n?o intervir. Os ?nicos que podem acabar com as ditaduras s?o os que est?o l? dentro.
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