De Nova Ipixuna (PA)
A Policia Civil do Par? afirma que o assassinato do assentado Herivelto Pereira dos Santos, encontrado morto neste s?bado (28), n?o teria liga??o com o homic?dio do casal de extrativistas Jos? Claudio Ribeiro da Silva e Maria Bispo do Esp?rito Santo, ocorrido na ter?a-feira passada. Detalhe: duas horas depois de encontrado o corpo de Herivelto, o delegado encarregado do caso j? manifestava tal opini?o. Disse o delegado Jos? Humberto de Melo Jr.:
- N?o tem liga??o, n?o existe l?gica para associar esse crime ao outro caso. At? porque no local existe a quest?o do tr?fico de drogas, o local ? utilizado como uma rota de fuga. Tem que ser apurado o que aconteceu l?, e n?o ser associado ao assassinato.
(Exatamente. H? que ser apurado e isso se aplica a todas as vers?es, inclusive, por certo, ? do delegado).
Jos? Batista, por exemplo, advogado da CPT, recha?a a avalia??o do delegado Jos? Humberto:
-Discordo totalmente da posi??o dele. A Pol?cia Civil n?o investigou nenhuma outra hip?tese de que o crime estivesse relacionado com alguma outra causa. Se a pol?cia divulga que est? relacionada ao tr?fico de drogas, ? irrespons?vel. N?o h? nenhuma prova colhida que aponte isso. ? uma decis?o precipitada que pode desviar o foco da investiga??o.
Corpo foi localizado por familiares (Foto: Marcelo Lacerda)
O corpo da v?tima foi encontrado por familiares. Herivelto, que tinha 25 anos, estava desaparecido desde quinta-feira (26) quando teria, segundo familiares, ido comprar peixe no Porto do Barroso, localizado ? beira do lago da represa de Tucuru?.
Familiares de Herivelto relataram o assassinato a integrantes de uma opera??o conjunta do IBAMA e Pol?cia Rodovi?ria Federal que, com quatro viaturas e um helic?ptero, atuavam na repress?o de crimes ambientais. A equipe, avisada pela fam?lia, se deslocou at? o local onde se encontrava o corpo.
Segundo informa??es do advogado da CPT e de outros assentados ouvidos na delegacia - que pedem sig?lo por temor a repres?lias -, Herivelto seria uma das testemunhas no caso do assassinato dos extrativistas Jos? e Maria.
Conforme esta vers?o que o aponta como testemunha, Herivelto consertava uma estrada danificada pelo per?odo de chuvas, quando foi abordado pelos pistoleiros; que n?o encontravam a rota de fuga do local. Herivelto n?o chegou a ser ouvido pela policia.
Mais assentados afirmam ter visto - como tamb?m relatava Herivelto ? uma moto vermelha da marca Honda, modelo Bros, e nela, dois homens com capacetes; quanto a esse fato e descri??o, portanto, Herivelto n?o ? a ?nica testemunha.
Peritos estiveram no local (Foto: Marcelo Lacerda)
A fam?lia encontrou o corpo ?s 10 horas da manh? do s?bado em um ponto de dif?cil acesso e, duas horas depois de informados, chegaram integrantes da Pol?cia Rodovi?ria Federal e do IBAMA. Agentes da Pol?cia Federal, transportados pelo helic?ptero do IBAMA, tiveram acesso ? cena do crime no meio da tarde. A Pol?cia civil chegou ao local apenas ?s 20h.
O corpo de Herivelto foi encontrado cerca de 50 metros dentro da mata, ao largo de uma trilha que leva ao lago de Tucuru? e que s? pode ser feita a p?. Essa trilha, localizada a aproximadamente 500 metros da casa de um assentado, Jo?o Pereira de Sousa, 69. Segundo a per?cia, Herivelto foi morto com pelo menos dois tiros. N?o havia sinais indicando que a v?tima tenha sido arrastada pela mata. Sua moto foi localizada na trilha.
O assentado Jo?o Pereira de Sousa afirma ter ouvido tiros por volta das 15h, na ?ltima quinta-feira, quando trabalhava em uma ro?a nas proximidades. Sousa diz n?o ter se dado conta dos tiros terem sido disparados t?o pr?ximos de sua casa.
No s?bado, os parentes de Herivelto armaram uma busca pelo desaparecido. "N?s chegamos aqui, na beira da grota, vimos a moto dele, e os urubus bateram asas. Entramos na mata, ?ramos em onze?, afirma a irm? Acleide Pereira dos Santos.
"A Justi?a tem que apurar o caso. N?s temos que pedir refor?o. A informa??o que n?s temos ? que a beira desse rio ? cheio de bandidos", disse Jo?o de Sousa Pereira. Este, embora de nome parecido com o do assentado Jo?o Pereira de Sousa, ? tio de Herivelto e vive na vizinha localidade de Itupiranga.
Segundo o delegado Melo Jr., no caso da morte de Herivelto n?o h? relatos de conflito agr?rio nem ind?cios de conflitos por terra. Por isso o crime n?o ser? investigado (pela delegacia especializada de Marab?) no mesmo processo que apura a morte do casal de extrativistas. Diz o delegado:
- Vai ser aberto um inqu?rito na delegacia local, de Nova Ipixuna.
O delegado Melo Jr. suspeita de um acerto em meio a disputas no tr?fico de drogas. Depoimentos de assentados indicariam, ? a informa??o da Pol?cia, que existiriam grandes planta??es de maconha no assentamento. "H? um indicativo de tr?fico", diz o delegado.
Eduardo Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Ipixuna, confirma que Herivelto era assentado, trabalhava na ro?a, vivia com sua m?e Maria Dolores e que seu pai, Aced?nio, foi v?tima de latroc?nio h? alguns anos.
Moradores aterrorizados
O terceiro assassinato, na mesma semana da morte de Jos? Cl?udio e Maria, trouxe p?nico ao local. Mais do que com medo, assentados est?o aterrorizados. Fam?lias seguem trancadas nas casas, com crian?as chorando. "Preciso avisar l? em casa que est? tudo bem, eles estavam chorando quando sa?", conta o Presidente do Sindicato, Eduardo Rodrigues, que acompanhou o trabalho da pol?cia depois de encontrado o corpo.
Rodrigues, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Ipixuna, resume o clima naquela regi?o do Par?:
-Aqui n?o tem Estado... estamos abandonados . ? preciso esclarecer esses crimes. Tenho medo, a gente est? com medo... quem n?o fica com medo em uma situa??o dessas? Todo mundo est? desesperado. O abandono aqui ? cruel. Muito cruel.
Felipe Milanez ? jornalista e advogado, mestre em ci?ncia pol?tica pela Universidade de Toulouse, Fran?a. Foi editor da revista Brasil Ind?gena, da Funai, e da revista National Geographic Brasil, trabalhos nos quais se especializou em admirar e respeitar o Brasil profundo e multi?tnico.Fale com Felipe Milanez: felipemilanez@terra.com.br
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