L' affaire DSK


Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do Fundo Monet?rio Internacional Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do Fundo Monet?rio InternacionalCl?udio Lembo
De S?o Paulo

O epis?dio que envolveu, em Nova York, o diretor geral do Fundo Monet?rio Internacional, Dominique Strauss-Kahn, n?o mereceu espec?fica reflex?o dos analistas. Limitaram-se ao aparente e esqueceram o subjacente.

DSK teria tentado violentar uma camareira do hotel, onde se encontrava hospedado. Tudo normal para este franc?s acostumado a aventuras er?ticas, segundo sua pr?pria biografia.

Absolutamente anormal, em pleno S?culo XXI, quando os direitos das pessoas se encontram proclamados e vigentes por todos os pa?ses civilizados.

A integridade f?sica e a dignidade humana s?o valores inviol?veis e pass?veis de respeito por todas as pessoas, independente de posi??o social ou riqueza de que ? possuidora.

O acontecimento verificado, nos aposentos de luxo de um hotel nova-iorquino, remete a outras ?pocas da Hist?ria, quando se encontrava vigente, como regime de governo, f?rmulas absolutistas.

O monarca, antes das revolu??es constitucionalistas, tinha poder de vida e de morte sobre seus s?ditos. Podia tudo, inclusive exercer os seus pseudos direitos divinos na sua plenitude.

A vida e a integridade f?sica dos seus s?ditos colocavam-se como objetos a servi?o da vontade do soberano. Ele podia tudo e inclusive usar do corpo alheio para sua lasc?via.

Os tempos mudaram. Cada um ? titular pleno de seu corpo e exerce sobre ele a plenitude de suas vontades. Atacar uma pessoa, desejando transform?-la em objeto de prazer, ? hoje inconceb?vel.

A agress?o praticada por DSK, al?m das vertentes apontadas, conduz a outras premissas para a reflex?o e busca de consequ?ncias. J? n?o se trata de pessoas, mas sim de institui??es.

O FMI, ?til no ap?s guerra, quando a infla??o se encontrava em processo de expans?o e havia uma desarruma??o financeira por toda a parte, tornou-se um organismo acima das soberanias nacionais.

Os seus integrantes consideram-se al?m do bem e do mal. O c?digo de conduta de seus funcion?rios confere a cada um status superior ao comum dos mortais.

Podem tudo, inclusive praticar atos vedados em qualquer institui??o privada, como, por exemplo, o ass?dio entre companheiros de trabalho, como informa mat?ria publicada pela imprensa norte-americana e reproduzida por aqui.

O caso DSK indica a soberba dos membros do FMI e a forma com que tratam os demais. Em nome das boas pr?ticas financeiras, exterminam comunidades e ferem pessoas.

Neste momento velhas na??es se encontram assoberbadas com as regras e condi??es impostas pelos mandantes do FMI. Espanha, Gr?cia e Portugal - apesar dos erros de seus governantes - se acham colocados como r?us indefesos.

O tema correspondente ao controle do FMI - e por consequ?ncia dos Bancos Centrais - ainda n?o mereceu estudos aprofundados nas democracias ocidentais. A autonomia exigida para as a??es das autoridades monet?rias, contudo, necessita a aten??o dos estudiosos de ci?ncia pol?tica.

Toda autoridade ? constantemente vigiada e a transpar?ncia ? exigida a qualquer personalidade p?blica, estendendo-se esta exig?ncia inclusive para a vida particular de cada agente.

Os dignit?rios do FMI e dos Bancos Centrais, contudo, parecem isentos de qualquer obriga??o com a cidadania, ainda porque se alheiam ? condi??o de cidad?os.

Apresentam-se como seres extraterrestres que governam as exist?ncias de cada pessoa, sem qualquer preocupa??o ?tica ou humana. As comunidades s?o meros laborat?rios para a aplica??o de seus des?gnios superiores.

Ao agredir uma camareira - e gra?as ? pol?cia de Nova York - a soberba e a id?ia de impunidade presente em quase todas as autoridades monet?rias ficaram patentes.

A democracia n?o pode permitir pessoas fora da lei, por mais brilhantes e qualificadas que se apresentem. ? necess?rio examinar - no plano internacional e no nativo - formas de conferir limites ? atua??o dos agentes monet?rios. Eles se consideram ra?a superior.

Cl?udio Lembo ? advogado e professor universit?rio. Foi vice-governador do Estado de S?o Paulo de 2003 a mar?o de 2006, quando assumiu como governador.
Fale com Cl?udio Lembo: claudio.lembo@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.
 

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