De S?o Paulo
Talvez o ?ltimo grande pa?s do mundo capaz de conciliar vigoroso desenvolvimento agr?cola com a manuten??o efetiva de sua integridade ambiental - como diz Thomas Lewinsohn, professor titular de Ecologia da Unicamp -, o Brasil deveria discutir a reforma de seu C?digo Florestal com base na busca de sinergias, e n?o de disputas. At? porque a boa produ??o agr?cola depende do bom funcionamento dos sistemas ambientais - simples assim.
Lewinsohn ? autor de um excelente artigo publicado no ?ltimo dia 15 no Estad?o, intitulado "A revanche da tiririca", onde mostra o frenesi da disputa pol?tica obscurecendo a raz?o do bom senso. No texto, ele lembra que o pequeno agricultor - que a atual proposta de reforma do C?digo alega defender -, ser? o primeiro prejudicado contra a eros?o, a degrada??o da ?gua e do solo, a poliniza??o e tantos outros servi?os ambientais, pois ? o que menos possui recursos e capital para enfrentar esses impactos.
Fosse o territ?rio brasileiro diminuto e desfavorecido em termos naturais, a disputa at? faria sentido. Mas al?m de extenso e ambientalmente rico, pode dar conta do aumento na produ??o agropecu?ria se usar de mais intelig?ncia na gest?o das terras e de aplica??o da tecnologia. O resto, ? com a natureza. Que ? parceira, n?o inimiga.
Nem ? preciso muitos recursos tecnol?gicos ou qualquer sofistica??o. Com o que o Brasil tem hoje na m?o em termos de conhecimento t?cnico, seria poss?vel ampliar a lota??o m?dia das pastagens de 1,14 cabe?a de boi por hectare para 1,5 cabe?a, o que abriria fant?sticos 69 milh?es de hectares para agricultura. O n?mero at? mesmo supera os 60 milh?es que s?o hoje ocupados por lavouras, conforme estimativa do pesquisador da Esalq-USP Gerd Spavorek, ao lado de mais quatro cientistas, em artigo que integra o livro O C?digo Florestal e a ci?ncia: contribui??es para o di?logo.
O livro, dispon?vel em sbpcnet.org.br, re?ne as palavras da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci?ncia (SBPC) e da Academia Brasileira de Ci?ncias, entidades para quais falta fundamento cient?fico na vers?o defendida pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Claro que o C?digo precisa de reformas, come?ando para tirar da ilegalidade agricultores que foram incentivados por pol?ticas agr?colas do passado, hoje ultrapassadas do ponto de vista da sustentabilidade, e que n?o podem pagar a conta sozinhos. Os cientistas pedem dois anos para contribu?rem na elabora??o de um projeto de bom senso. Inclusive politicamente.
Rio + 20
No momento em que o Brasil se prepara para sediar , daqui a um ano, a Rio+20, um desgate na imagem do Brasil como pot?ncia ambiental mundial ? bem pouco conveniente ao governo federal e toda a sociedade brasileira. O encontro, que marca 20 anos da Rio 92, centrar? esfor?os na discuss?o da modern?ssima economia verde e n?o combina com a imagem de um setor ruralista retr?grado.
Como disse o ministro das Rela??es Exteriores, Antonio Patriota, a Rio+20 "ser? provavelmente a maior confer?ncia internacional do mandato da presidenta Dilma Rousseff". Em tempos de uma nascente economia verde, ser uma pot?ncia ambiental n?o ? para qualquer pa?s, e se espera que o governo esteja realmente atento a manter e aproveitar esse prest?gio mais que pol?tico - geopol?tico.
Votar uma mat?ria de tanta import?ncia como o C?digo Florestal ?s pressas, com base na mera disputa, e sem todas as vozes sejam ouvidas, analisadas e incorporadas ? discuss?o, n?o parece ser a estrat?gia mais inteligente nesses novos tempos.
Am?lia Safatle ? jornalista e fundadora da P?gina 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econ?micos ?s quest?es sociais e ambientais.Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.

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