Secret�rio: Salvador subordinou se a interesses da constru��o civil


Eliano Jorge


Tr?nsito intenso na Avenida Tancredo Neves, ?rea empresarial de Salvador
(foto: Thiago Souza/vc rep?rter)

Al?m de ser obst?culo di?rio nas ruas, o tr?nsito representa um empecilho aos planos de Ney Campello, do PCdoB, no comando da Secretaria Extraordin?ria para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, do governo estadual da Bahia. "Nosso problema maior ? a mobilidade urbana", admite, sobre a prepara??o de Salvador para a competi??o. "Agora a cidade discute como sair da sinuca de bico", complementa em entrevista a Terra Magazine.

No Twitter, o secret?rio havia mencionado "o caos" dos engarrafamentos soteropolitanos e criticado o antigo poder da especula??o imobili?ria em detrimento da organiza??o do espa?o urbano.

- Algumas administra??es abandonaram o caminho do planejamento da cidade e subordinaram a gest?o pol?tica de Salvador a interesses de alguns segmentos econ?micos. ? preciso reverter esta l?gica e a cidade ser governada e planejada para o cidad?o - reitera Campello, apontando o setor influente: "a ind?stria da constru??o civil".

Ele pr?prio j? trabalhou nessa ?rea. E opina: "N?o tenho nenhum receio de dizer que aqui segmentos como ind?stria da constru??o civil, transporte e lixo urbano s?o muito fortes, tanto pol?tica como economicamente".

Sublimando seu corintianismo, Campello mant?m a esperan?a de levar ? capital baiana a festa e o jogo de abertura da pr?xima Copa do Mundo, apesar do favoritismo paulistano. Por?m, prega a coopera??o entre as sedes.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - O jornal O Estado de S. Paulo publicou, nesta quarta-feira (11), que o secret?rio-geral da Fifa, J?r?me Valcke, anuncia S?o Paulo fora da Copa das Confedera??es de 2013. O que o senhor acha disso, j? que ? uma das sedes que concorre com Salvador pela abertura e pela final da competi??o?
Ney Campello -
Eu lamento porque minha vis?o sobre o processo de realiza??o desse evento no Brasil n?o ? de comemorarmos dificuldades das sedes brasileiros, este ? um projeto nacional. Portanto, a fragilidade de S?o Paulo, a maior cidade e o principal Estado do Pa?s, repercute negativamente como projeto nacional, isso n?o ? bom, ainda que venha ter como consequ?ncia um fortalecimento de um pleito baiano. Acho que n?o devemos buscar o fortalecimento dos nossos projetos desqualificando os projetos das demais sedes.
Objetivamente, se essa decis?o for confirmada, ? ?bvio que o projeto baiano ganha um pouco mais de f?lego, se fortalece, demonstrando que podemos abrigar a competi??o. Continuaremos com as a??es de garantia dos prazos do cronograma para que a Fifa olhe um pouco para o Nordeste e selecione a Bahia. Estamos pleiteando abrigarmos ou a abertura ou o encerramento da Copa das Confedera??es. Isso foi encaminhado ao pr?prio J?r?me Valcke e ao (presidente da Fifa) Joseph Blatter como uma carta do governo Jaques Wagner.

O Jornal Nacional, da TV Globo, apontou Belo Horizonte, Bras?lia, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador como sedes da Copa das Confedera??es.
Uma informa??o como essa n?o aparece na Globo, na boca de William Bonner, por nada. Com certeza. N?o h?, de fato, a confirma??o. Mas tendem a se confirmar essas cidades mesmo. Isso j? gerou um clima extremamente positivo na Bahia. Muitos setores falando, se articulando. A gente ganha no sentido da acelera??o das provid?ncias, dos ?rg?os que deliberam sobre elas e percebem que isso ? pra valer, que n?o ? brincadeira e tudo indica que Salvador recepcionar? este evento. ? mais est?mulo e responsabilidade.

Exceto Salvador, alguma cidade se candidatou ? abertura ou ? final da Copa das Confedera??es?
A Bahia ? a primeira sede que oficializou esse pleito, n?o tenho conhecimento de nenhuma outra. Inclusive tivemos resposta do J?r?me Valcke que aguard?ssemos a an?lise Fifa/COL at? o fim de julho, quando definiriam as sedes.

Deve ser anunciada tamb?m a tabela do Mundial, n?o?
N?o creio, e a? ? mais uma especula??o (minha), que necessariamente saia a defini??o das sedes de cada fase, de abertura e encerramento da Copa do Mundo. Imagino que a Fifa v? aguardar um pouco, n?o tem uma necessidade de, em julho deste ano, j? determinar isso. N?o foi assim em outros Mundiais. Inclusive, em 2006, seis meses houve at? mudan?a (do local da abertura), de Berlim para Munique.

Esse exemplo da Alemanha permite que as demais cidades mantenham suas candidaturas ? abertura, mesmo que S?o Paulo seja logo escolhida, como parece ser o desejo da Fifa e do governo devido ? infraestrutura paulistana.
Exatamente. Acho que ? bom ser um pouco adiante para que a Fifa tenha maior clareza sobre onde os projetos est?o mais avan?ados, e n?o somente em rela??o ao est?dio, mas a quest?es como aeroporto, mobilidade urbana. ? bom para a Fifa n?o haver uma precipita??o. Estamos aqui pisando o acelerador para que, se houver este espa?o vazio, a Bahia, n?o tenha d?vida, tem a inten??o de faz?-lo da maneira mais profissionalizada e competente poss?vel. Somos um pouco a cara da diversidade brasileira, pela nossa representatividade de ter sido a primeira capital brasileira e ber?o do Pa?s.
Quero muito que voc? registre que n?o recebo com regozijo nem com alegria essa informa??o (da exclus?o de S?o Paulo da Copa das Confedera??es). A Copa precisa ser um evento que contemple todo o Pa?s, todas as 12 sedes, todas as regi?es geogr?ficas, distribuindo todos os eventos dela, de modo que o pa?s inteiro seja beneficiado. Ent?o, n?o ? bom para o pa?s que alguma sede seja descredenciada e nem que uma sede como S?o Paulo passe por este tipo de dificuldade. Acho lament?vel, mas, se for confirmado, vamos disputar a condi??o de preencher uma lacuna que S?o Paulo deixa.

? verdade que o senhor torce para o Corinthians?
Eu at? sou corintiano. Sou Vit?ria aqui, conselheiro do meu clube, mas tenho um affair e uma torcida muito grande pelo Corinthians.

E curiosamente concorre com o futuro est?dio do pr?prio Corinthians pela sede da abertura da Copa do Mundo...
?. Mas, nessa hora, o cora??o corintiano fica aposentado e prevalece o cora??o baiano, trazer para a Bahia um evento que permite uma repercuss?o e uma visibilidade muito importante para o nosso Estado. O Corinthians ter?, mais cedo ou mais tarde, o Itaquer?o. N?o d? para ningu?m afirmar se sai para 2013 ou 2014, ? uma d?vida que est? posta. Vi na televis?o o pr?prio (presidente) Andr?s (Sanchez) disse n?o saber quando come?a (a obra) do est?dio. Ainda ? uma situa??o indefinida mesmo. Tor?o para que isso se resolva porque ? bom para o Brasil um projeto consistente de S?o Paulo na Copa. N?o devemos transformar esta Copa numa luta em que uns ganham e outros perdem, tem que ser um evento em que todos ganham, precisa ser uma agenda positiva para o pa?s, n?o pode ser uma coisa de um querer engolir o outro.
Fazer ataques estimula uma disputa para um ficar encontrando os defeitos do outro. Por isso eu lamentei muito as palavras do secret?rio da Copa em Minas, que criticou as cidades candidatas a receber a abertura da Copa: uma n?o tinha est?dio, uma n?o tinha futebol e a outra n?o fazia sentido.

Belo Horizonte disputa com S?o Paulo, "que n?o tem est?dio", Bras?lia, "que n?o tem futebol", e Salvador, que "n?o faz sentido". Por que sua sede "n?o faz sentido"?
N?o diz. ? uma declara??o no vazio que me parece n?o corresponder ? ?ltima defini??o da reuni?o do forum das cidades-sede, que aconteceu, por coincid?ncia, em Minas Gerais. Foi uma delibera??o desse forum, em abril, que as cidades devem se apoiar e buscar mecanismos de troca de interc?mbio de opini?es e experi?ncias, dever?amos buscar esta postura ?tica. Tenho opini?o tamb?m sobre Minas Gerais. Conhe?o tanto as virtudes quanto as fragilidades do projeto mineiro, mas n?o vou me pronunciar sobre isso, em respeito ao projeto nacional, que ? a Copa dando certo para o Brasil todo. Para essa luta fratricida, eu n?o vou.

Recentemente, o senhor tuitou as seguintes mensagens:
"O caos de Salvador no tr?nsito tem causas na falta de planejamento urbano e subordina??o pol?tica a interesses privados";
"A l?gica hist?rica dessa cidade ? a especula??o do solo, a engorda de terrenos e a licenciosidade no lugar do licenciamento";
"Em Salvador, primeiro se licencia a obra, depois ? que se discute a infraestrutura vi?ria e de servi?os".
Isso. ? verdade, Salvador sofre de um problema hist?rico, portanto n?o estou fazendo nenhuma cr?tica ao atual governo municipal. Algumas administra??es abandonaram o caminho do planejamento da cidade e subordinaram a gest?o pol?tica de Salvador a interesses de alguns segmentos econ?micos. ? preciso reverter esta l?gica e a cidade ser governada e planejada para o cidad?o. Nosso problema maior, a mobilidade urbana, ? fruto do qu?? Estamos vivendo como metr?pole, a terceira cidade mais populosa do Brasil e com maior densidade demogr?fica entre todas as capitais, s?o 10 mil habitantes por quil?metro quadrado.
Especulou-se o uso do solo com terrenos que serviram, ao longo de anos, como terrenos de engorda e favoreceram muito a especula??o imobili?ria. Acabou prevalecendo uma l?gica de come?ar a licenciar a constru??o de pr?dios, pelas avenidas de vale, como a Avenida Paralela, que ? hoje o principal ponto cr?tico de travamento da cidade. Primeiro voc? licencia para depois discutir infraestrutura, isso n?o ? l?gica de planejamento urbano. Tem que criar infraestrutura, o sistema p?blico de transporte, as ciclovias, as ciclofaixas e depois planeja para licenciar. Aqui se fez o inverso, e agora a cidade discute como sair da sinuca de bico.

Esses segmentos privilegiados s?o as construtoras, as imobili?rias...
? a ind?stria da constru??o civil. N?o tenho nenhum receio de dizer: aqui segmentos como ind?stria da constru??o civil, transporte e lixo urbano s?o muito fortes, tanto pol?tica como economicamente. N?o tenho absolutamente nenhuma restri??o ? legitimidade do empresariado de qualquer setor, inclusive desses tr?s, de buscar seus resultados. S?o empres?rios, buscam o lucro. Agora o papel do agente p?blico ? de intermediar essas rela??es para garantir o interesse daqueles que n?o t?m a for?a econ?mica que esses segmentos possuem: a popula??o.
Por exemplo, 40% da popula??o anda a p? ou de bicicleta em Salvador. Cad? os passeios, as rampas, o piso t?til, as ciclovias e ciclofaixas etc? A cidade tem que pensar nos seus 2,7 milh?es de habitantes. N?o pode ser a ditadura do carro, do ve?culo individual e motorizado, temos que pensar a cidade para todo mundo, e a Copa ? uma enorme oportunidade disso. Por isso mesmo, Governo do Estado e Prefeitura, que acabaram de celebrar um termo para constituir um comit? organizador unificado, t?m a chance hist?rica de, como pretexto da Copa, reverter essa l?gica e dar a Salvador e regi?o metropolitana, a chance de um novo processo urbano, de requalifica??o da vida urbana, que seja mais saud?vel e sustent?vel para toda a popula??o. Volto a repetir, n?o ? uma cr?tica pontual, n?o ? uma cr?tica ao atual governo municipal, mas ? uma cr?tica a um processo hist?rico que vem sendo influenciado nessa dire??o e que temos a chance de revert?-lo.

O senhor tem, inclusive, uma experi?ncia no setor da constru??o civil, n?o?
Eu tive em 1993 uma passagem muito r?pida, de um ano aproximadamente, numa empresa, numa construtora, mas uma coisa muito pequena. Uma empreteirinha, n?? Muito, muito pequena, de tr?s s?cios. Eu era executivo, diretor administrativo financeiro. Eu venho do mundo privado, quer dizer, ? um misto. Porque fui vereador aos 20 anos em Salvador, fui o mais novo vereador do Brasil, quando me elegi em 1982. Depois disso, tive uma trajet?ria de estudos na ?rea do Direito, voltei para a iniciativa privada e nela me encontro h? mais de 20 anos. Em 95, tive uma passagem na Prefeitura, em Educa??o. E, de 2005 a 2007, fui secret?rio de Educa??o em Salvador.
Tenho um misto da experi?ncia do p?blico e do privado, sei como essas rela??es se estabelecem e que existem contradi??es que precisam ser equacionadas. Como minha trajet?ria sempre foi em partidos de esquerda, para mim foi claro observar at? onde ia o leg?timo direito de empreender e empresariar e onde come?a a distin??o entre o p?blico e o privado.
O privado intenciona se aproveitar do p?blico, e o p?blico acaba tamb?m se aproveitando das rela??es privadas. Acho que vivemos hoje no Pa?s um momento precioso, singular, de romper completamente essas rela??es. N?o tenho nada contra os setores de constru??o civil, de transporte, de lixo, de nada. O que n?o pode ? segmentos econ?micos determinarem o rumo da cidade. E nem gestores p?blicos, sejam eles quais forem, se subordinarem a essa l?gica, se tornarem ref?ns.

E para 2014...
A Copa acaba gerando um debate mais amplo do que o evento. E mostra que, quando voc? est? discutindo transporte, n?o discute s? isso da mobilidade, e sim a verdade que voc? deseja, para quem ela est? sendo constru?da, quais s?o os interesses leg?timos e n?o leg?timos. Acho um debate extremamente rico, que naturalmente traz controv?rsias e conflitos de interesses. A? o Estado tem que atuar como mediador desses grupos de interesses na defesa do lado mais fraco, que ? o cidad?o, a sociedade que n?o est? organizada.
? o momento de a gente tentar. Se n?o, vira uma geleia geral, ou seja uma discuss?o de investimentos e interven??es pontuais, que depois, passado o processo do evento, o que fica? Estamos falando de muito dinheiro p?blico que ser? aplicado. ? a responsabilidade p?blica de deixar o m?ximo de legados. Na Inglaterra, para as Olimp?adas de 2012, criou-se uma empresa de legados que, para cada uma libra (investida), precisa reverter 75 cents de libras em legados. As cidades brasileiras da Copa precisam ter isso como um foco importante: est? colocando dinheiro, fica o que para a sociedade?

Est? sendo discutido um novo sistema de transporte coletivo para os limites da cidade, na regi?o metropolitana, onde fica o aeroporto. Mas os engarrafamentos na Avenida Paralela n?o s?o causados pelos carros, por pessoas de maior poder aquisitivo que moram no litoral norte?
N?o, Salvador hoje ? uma cidade conurbada, voc? n?o sabe onde ela termina e onde come?a Lauro de Freitas, que cresceu 50%, parece, nos ?ltimos 10 anos. H? uma popula??o extremamente pobre que mora em Lauro de Freitas. A solu??o de transporte para a regi?o metropolitana n?o ? para atender aos ricos nem a quem tem carro n?o. ? fundamental para a popula??o mais pobre desta cidade e, ao mesmo tempo, resolve um problema da Copa, deixando um legado social, porque boa parte das sele??es e turistas v?o ficar mais adiante no litoral norte, que ? a regi?o de Sau?pe, Praia do Forte e tal.
No caso da Paralela, h? toda uma circula??o porque ela interliga todo o miolo da cidade, os grandes bairros de Salvador, como Mussurunga, Cajazeiras. Temos que aproveitar essa chance, Salvador ? hoje uma das piores cidades do Brasil em termos de ciclovias e ciclofaixas. O Estado est? cuidando disso, fez um pleito de R$ 40 milh?es ao Minist?rio das Cidades e pode chegar a 200 km de ciclovias e ciclofaixas at? 2014.

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