Do Recife (PE)
Continuando nossa viagem pelos sabores de Fernando Pessoa, tendo como roteiro o livro de Jos? Paulo Cavalcanti Filho ("Fernando Pessoa, uma quase autobiografia"), chegamos ao Jantar, sua ?ltima refei??o do dia. Ele mesmo dizia, "e tudo se me mistura - inf?ncia vivida ? dist?ncia, comida saborosa de noite, cen?rio lunar". Ele jantava sempre ?s sete da noite. Como entrada, apreciava especialmente uma boa sopa. Sobretudo "caldo verde" - prato que recebe o nome por conta da couve (cortada bem fininha) misturada ? sopa. A sobrinha de Pessoa, Manuela Nogueira, confirma esse gosto: "o tio Fernando comia sempre as sopas que ent?o se faziam l? em casa, sobretudo o caldo verde". ? uma receita simples:

Foto: Getty ImagesCaldo Verde
Ingredientes: 500gr de batatas, 1 paio, 2 dentes de alho, 4 colheres de sopa de azeite, sal, 200gr de couve.
Preparo: cozinhe as batatas em 2 litros de ?gua com o paio (cortado em rodelas) e sal. Cozidas as batatas, esprema e misture com o caldo. Junte a couve, a metade do azeite e deixe no fogo at? que a couve esteja cozida. Ao servir, acrescente o restante do azeite.
Muitas vezes ia ao Martinho e dividia mesa com a fam?lia S? Mour?o, propriet?ria do estabelecimento. Havia outro Martinho, o "Caf? Martinho" - fundado em 1845, no antigo Largo Cam?es; e, por isso, mais conhecido como o "Martinho do Cam?es". Mas esse Martinho, em que ia, ficava no Terreiro do Pa?o, n?mero 3, esquina com a Rua da Alf?ndega. ? o mais antigo caf? de Lisboa, inaugurado em 1782. Mob?lia pesada, ch?o de taco, pequeno ventilador no teto. Segundo depoimento de Luis Machado, "local de conjura??es, pouso habitual de Jacobinas, liberais, ma?ons, anarquistas e republicanos, nas suas mesas, discutiram-se regimes, contestaram-se pol?ticas, desafetaram-se revolu??es". Pessoa usava esse Martinho como escrit?rio. "L? chega, invariavelmente, por volta das 7h da noite. Sentava-se ? mesma pequena mesa de m?rmore cinza-escuro e nela espalhava os pap?is que trazia na insepar?vel pasta preta que carrega debaixo do bra?o. Seu atual propriet?rio, Ant?nio Barbosa de Souza, faz sempre quest?o de apontar essa mesa a turistas e admiradores", lembra Jos? Paulo. Pedia sempre a sopa do dia. Com o tempo, passa a ser apenas isso. O velho Mour?o, preocupado com o amigo, ent?o inventou uns ovos estrelados com queijo - que punha em seu prato, para dar ? refei??o alguma sustan?a. Mas, no Martinho, a mais famosa das sopas era mesmo a Juliana.
SOPA JULIANAIngredientes: 2 litros de ?gua, 3 colheres de azeite, 2 alhos franceses (echalotte), 2 cenouras grandes, 2 dentes de alho, 1 nabo grande, 2 cebolas m?dias, 1 aipo, 5 folhas de couve, 2 folhas de alface, 100g de ervilhas, 50g de manteiga, 1colher de a??car, sal e pimenta a gosto.
Preparo: Coloque, em uma panela, ?gua, azeite, sal, pimenta e a??car. Em outra panela refogue cebola e alho com azeite. Junte ervilhas, alhos franceses, cenouras peladas, nabo descascado, aipo, folhas de couve e de alface. Junte o refogado ao caldo. Tempere com sal, pimenta, azeite e manteiga. Deixe no fogo por 10 minuto. Sirva.
(Continua no pr?ximo s?bado)
Lecticia Cavalcanti coordena o caderno Sabores da Folha de Pernambuco, escreve na Revista Continente Multicultural e no site pe.360graus.Fale com Lecticia Cavalcanti: lecticia.cavalcanti@terra.com.br
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