Aldo x Marina: duelo das esquerdas


Vitor Hugo Soares
De Salvador (BA)

O bafaf? da madrugada no plen?rio e galerias da C?mara dos Deputados, durante as tensas e agitadas barganhas de ?ltima hora para vota??o do C?digo Florestal, guarda ainda pontos obscuros e estranhos a serem descobertos e revelados. Na briga feia de quarta-feira foram apenas insinuados no twitter da verde Marina Silva, e na resposta dura e surpreendente rea??o do parlamentar comunista do PCdoB, Aldo Rebelo, relator do projeto.

Um fato, no entanto, ? palmar e transl?cido no meio de toda balburdia e cortinas de fuma?as que cercam o debate de interesse p?blico nacional, corro?do por interesses pr?prios e mal dissimulados por todos os lados: o entrevero desta semana exp?s de vez e com muito alarido as fraturas que trincam as rela??es atuais entre as chamadas for?as de esquerdas aliadas ou n?o ao governo Dilma, pacificadas ou mantidas sob fogo brando no governo Lula.

Sem mudar de assunto, uma r?pida pausa para apreciar mais uma vez a charge emblem?tica publicada no come?o da semana no jornal baiano A Tarde. O desenho assinado pelo premiado chargista Cau Gomez, que tanto faz rir quanto pensar nestes dias de tumultos e tremores pol?ticos de acomoda??o de terra, que abalam tanto as for?as governistas quanto as de oposi??o.

O deputado relator do projeto do c?digo florestal aparece retratado como um caub?i do faroeste brasileiro. O enredo que atualmente mais divide opini?es, devido principalmente ? descomunal carga de interesses em jogo ? direita e ? esquerda. Al?m, obviamente, da dificuldade enorme do espectador para identificar quem ? jagun?o e quem ? mocinho nessa hist?ria complicada.

Presas nas botas de alto coturno do deputado Aldo Rebelo, duas esporas, no tra?o denso e substancial do desenhista soteropolitano. N?o daquelas comuns, usadas por vaqueiros nordestinos e ga?chos, ou mocinhos do cinema am?ricano, mas sim duas estilizadas motosserras - uma em cada perna - usada pelos devastadores que andam impunemente por a?, da selva amaz?nica ? Mata Atl?ntica, em geral a soldo e a mando.

E estamos de volta ao "Saloon" do Congresso brasileiro. na C?mara dos Deputados, premonitoriamente visualizado pela arte e pelo tra?o de Cau Gomez dias antes do duelo das esquerdas no Planalto Central do Pa?s.

Tudo ainda repercute em Bras?lia, no pa?s e mundo afora. Tanto pela gravidade do que foi feito e dito durante o bafaf? em si, como pela consequ?ncia mais imediata do triste epis?dio: a suspens?o do processo de acordo e vota??o do crucial C?digo Florestal, jogados agora para o confuso territ?rio do tempo incerto e n?o sabido.

Isso, evidentemente, sem contar com outras consequ?ncias que seguramente est?o a caminho nesse jogo pesado de poder e interesses localizados, quando est? em pauta um projeto de interesse p?blico nacional da maior relev?ncia para os passos futuros que o pa?s pretende empreender.

Ali?s, basta conhecer um pouco de hist?ria para saber que, no Brasil, tempos como este s?o os preferidos e perfeitos para a atua??o de personagens como aquele de Macuna?ma - o romance e o filme - que no meio da confus?o geral solta o grito: "Agora ? cada um por si, e Deus contra".

Por dentro e por fora do Congresso n?o ? dif?cil perceber (basta ter vontade para isso) a import?ncia do jogo e a multiplica??o das jogadas, tal o nervosismo e agita??o com que se movem pol?ticos, empres?rios, gente do governo e lobistas da terra, al?m de not?rias ONGs multinacionais e at? gente consagrada do cinema e da m?sica. Todos, ou quase todos, voam feito moscas em disputa de uma fatia do suculento bolo de a??car e mel nas m?os do Congresso brasileiro.

Sei que alguns "politicamente corretos" por a? ir?o torcer o nariz por usar nestas linhas "par?metros de direita e esquerda cl?ssicos, de antes da queda do Muro de Berlim no s?culo passado para identificar e falar sobre correntes pol?ticas e ideol?gicas que hoje se mastigam e se engolem mutuamente como nos velhos tempos em que era comum ouvir. "As esquerdas no Brasil s? se unem na cadeia". Que falem, mas vou em frente.

Com as for?as de oposi??o ao governo Dilma desarvoradas em seus labirintos existenciais (quase a nocaute e ainda sem saber direito se falam para o "pov?o" ou para a classe m?dia), os ditos partidos de esquerda - e seus l?deres principais - podem dedicar-se ao seu hist?rico esporte preferido: mastigarem-se mutuamente.

Foi o que se viu quarta-feira na C?mara, quando da tribuna o petista Paulo Teixeira (SP) acusou o parlamentar comunista, relator do projeto, de enxertar "pegadinhas" no texto j? negociados do C?digo Florestal. Da galeria, a verde Marina Silva repercutiu a suposta "pegadinha" em seu "twitter", o que fez um irado e surpreendente Aldo Rebelo saltar das esporas e fazer de p?blico uma den?ncia t?o cabeluda quanto comprometedora , tanto para o autor quanto para a acusada, diga-se:

"A fala infeliz do deputado Paulo Teixeira (de que Aldo havia alterado o texto em rela??o ao acordo) deu raz?o para a ex-senadora Marina Silva, que postou em seu Twitter que eu fraudei o texto. Quem fraudou, quem contrabandeou madeira, foi o marido da senadora. Na ?poca, fui eu que defendi o marido dela nesta Casa", atacou , referindo-se ao suposto envolvimento do marido de Marina, F?bio Lima, em fraudes no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

Ao lado, amplificado pelo servi?o de som, ergue-se o grito do deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) em defesa de Marina: "Canalha, traidor!". E a turma do deixa-disso entra em campo para esfriar os ?nimos. Vota??o do C?digo Florestal adiada sem previs?o de retomada e cabe?as esquentadas postas no congelador, para esfriar, ou n?o, nos pr?ximos dias.

A conferir.


Fale com Vitor Hugo Soares: vitor_soares1@terra.com.br Opini?es expressas aqui s?o de exclusiva responsabilidade do autor e n?o necessariamente est?o de acordo com os par?metros editoriais de Terra Magazine.
 

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